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Ultrapassar os resquícios provocados pela azáfama de uma das mais longas campanhas eleitorais ocorridas em Cabo Verde, para as eleições legislativas de 20 de março de 2016, não está a ser tarefa fácil para Ulisses Correia e Silva e para o séquito que o apoiou, tanto em género como em grau.

Com o Movimento para a Democracia extremamente ufano e ainda a exceder de nervosismo cerca de um mês depois da noite da vitória, que deixou o seu líder atónito e de queixo debangòde, a ponto de recorrer às Canárias para tentar acalmar os próprios ânimos (já tinha visto alguém que sofreu semelhante surpresa e que nunca mais conseguiu refazer-se) e, já mais refeito, decifrar o turbilhão de sentimentos que têm sido um autêntico puzzle. Todavia, espera-se que UCS tenha regressado do período extra de reflexão canarino pronto para os embates, de todo o tipo, que o aguardam aqui no “País de todas as soluções”.

A prioridade seria em princípio que – antes da tomada de posse e após o susto / êxtase – UCS procurasse refazer-se (por vezes as vitórias também assustam!) para, logo de seguida, meter mãos à obra. Isso, que seria benéfico na transformação do difícil em fácil, infelizmente não se verificou – pelo menos, na óptica de uma boa parcela da população. O que, porém, se espera é que o UCS não desperdice / hipoteque os seus 100 Dias de Graça em assuntos que não trazem nada de novo para as soluções que reiterou existirem e de que todos, “grandes e pequenos”, estão à espera que aconteçam, automaticamente, como por encanto ou magia. Coisa semelhante ao que Cristiano Ronaldo (Real Madrid) prometeu fazer ao wolfsburg e cumpriu sem perda de tempo, mesmo olhando para todos os lados.

Compreende-se que reduzir um elenco de 17 Ministérios e algumas Secretarias de Estado num compacto de 11 Ministérios mais a Primatura (São Tomé e Príncipe, mais pequeno que Cabo Verde, formou Governo em 2010 com 10 Ministérios, uma Secretária de Estado, mais a Primatura ocupada por Patrice Trovoada) deverá ter sido, a todos os títulos, uma tarefa hercúlea – que não é para qualquer mortal. A prova disso é o facto de ilhas como São Vicente e Fogo, por exemplo, terem ficado a ver navios no que ao elenco ministerial diz respeito, e que deu nas vistas. Tal façanha, prometida e cumprida, deverá ter contribuído para que o novel PM, ainda não empossado, tenha empanturrado ao Ministério de Economia umas seis ou sete pastas – creio que na governação de um País não existirá algo como “mini-pastas”! Como promessas e compromissos são assumidos para serem honrados, ainda por cima logo no início, que fazer? Se bem que não se vislumbrem quaisquer razões para que não se “alarguem as bainhas” caso se chegue à conclusão de que isso é inevitável!

Um ponto que me parece ter reunido um certo consenso (até porque já foi consumado) é o de que quanto mais poeira tenha sido levantada e/ou arrastada no pós-eleições, como foi o que aconteceu ao Movimento vencedor durante a fase de promoção das festas da vitória, menos tempo terá sobejado para a reflexão inicial sobre o grande empreendimento (leia-se trabalho!) que Ulisses Correia e Silva e o seu elenco governamental têm à sua espera, e que, como o próprio exteriorizou, era mesmo para “ontem”. Para alguns dos mais afoitos, esperar até o prazo de investidura do Governo para começar a ver os resultados constitui, em si, um enorme sofrimento (!) mesmo sabendo que não se pode colocar a carroça à frente dos bois. Mas, ansiedade oblige!!! Esta fase imediata às eleições, conforme o novel PM deixou implícito nas entrelinhas, foi reservada com a exclusiva finalidade de saltar de ilha para ilha e de município para município e, de viva voz, acompanhado de sonoras bandas locais, agradecer, penhoradamente, a vitória que as Autarquias lhe proporcionaram. A propósito de agradecimentos, para não destoar a maior ilha do País foi contemplada, como sempre, com o maior quinhão em termos de ministeriáveis. São Vicente, por exemplo e não obstante todo o “barulho” e publicidade feitos à sua volta, como é grande apenas em grau (tamanho não é documento!) reitero que ficou a ver navios. Oxalá tal desfeita nada tenha a ver com o facto de Ulisses Correia e Silva estar a pensar em cumprir a promessa de transformá-la em cobaia para a experiência de Regionalização.

Na situação de vencidos e colocados na Oposição, a JHA e o PAICV, como não têm tempo a perder com lamentações, que não se coadunem com a sua forma de estar na política, meteram logo mãos na massa no sentido de trabalhar com afinco para a recuperação dos votos perdidos. No ano em que ainda há mais duas eleições importantes a disputar, não podem dar-se ao luxo de fazer uma pausa e descansar nesta altura em que o tempo urge. Julgo ser essa a ordem de ideias que fez a presidente tambarina, mal tomou conhecimento, ainda na noite das eleições, da derrota do seu Partido, prometer que ia sem demora pôr a máquina partidária a funcionar.

Cumprindo o prometido, a líder do PAICV tocou logo a reunir as suas tropas, tanto para uma análise profunda no seio do Conselho Nacional (CN), como também para esmiuçar as causas da derrota e os resultados eleitorais conseguidos. Penso que tal reunião, ao mais alto nível, com a presença de todos os dirigentes terá também servido para se extrair as ilações que se impõem e, ao mesmo tempo, delinear-se os trabalhos para a nova etapa que se segue, isto é, as importantes e não menos trabalhosas eleições autárquicas que se aproximam a todo o vapor.

Por seu turno, a quem vence, qualquer que seja o pleito, mormente tratando-se de quem passou 15 anos a jejuar na bem merecida situação de oposição, dá-se não só o beneplácito como a legitimidade para festejar o máximo que possa, por vezes até transmitindo a impressão, provocada pelo frenesi do momento, de que a vitória é festejada como se fosse, ao mesmo tempo, a primeira e a última. O que é próprio de gente que, depois de ter passado três temporadas empenhado, com armas e bagagens, a fazer o tão apetecível papel de governo sombra, muito do agrado ventoinha, parecia ter perdido a esperança de regressar tão cedo ao poder. Por outro lado, uma vez que o trabalho vai ser mesmo árduo, é bom que a estratégia que UCS utilizou na campanha, de que o seu partido é Cabo Verde, seja repensada quanto antes para desfazer eventuais ressentimentos.

Quanto à UCID, fazendo de conta, como é hábito do seu líder, que não sofreu um dos maiores desaires de sempre ao eleger um único Deputado nessas eleições de 20 de março (António Monteiro reiterou várias vezes que, desta feita, pretendia vencer e formar governo) – razão por que o tamanho da queda foi proporcional à altura da fasquia mal colocada. Apesar disso, fingem estar com força para serem agressivos no verbo, através da voz do seu vice-presidente, ao culpar o sistema eleitoral, que é igual para todos, pelos seus males.

Se calhar, por ter ficado em segundo lugar em São Vicente (o que é natural por ser o habitat político da UCID, único em 22 Municípios!) esquecendo-se que o que conta é o score nacional. E, vai daí, sentiu-se na obrigação de declarar que vai pedir a revisão da CRCV ou do CNE, sei lá, no sentido de serem criadas condições para a sua própria descolagem do rabo em que A UCID se auto-encalacrou em entendimentos com o MpD, de moto próprio, depois da Abertura Política. Só não sei se vai possível conseguir fazer isso tendo apenas 3 Deputados num universo de 72, que corresponde a 4,166 %. Contudo, como cada um é que um sabe com que linhas cose, não custa esperar para ver e crer, como São Tomé.

P.S.: Queria aproveitar esta oportunidade, no momento em que o semanário “A Semana” festeja as suas merecidas Bodas de Prata, fruto de um trabalho profícuo e abnegado, para apresentar à Administração da Empresa e aos seus colaboradores, os meus parabéns pelo excelente desempenho no trabalho informativo/formativo desenvolvido durante os 25 anos da sua existência. E faço votos para que continue, a cada dia que passa, a ser essa Instituição que muito de si tem dado para a Comunicação Social em Cabo Verde. BEM HAJA.