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Lusa

A tentativa de assassinato, na tarde desta quarta-feira, 20, de Manuel Bissopo, Secretário Geral da Renamo, o mais forte partido da oposição em Moçambique, poderá tornar a actual crise político-militar ainda mais perigosa. Embora não se conheçam ainda os protagonistas do atentado, a opinião pública atribui a responsabilidade ao governo, liderado pelo partido Frelimo, no poder desde que Moçambique se tornou independente. Será esta tentativa de assassinato uma declaração de guerra civil? A Lusa noticiou que o estado clínico de Bissopo é crítico.

(Texto da Agência Lusa, 20 de Janeiro de 2016)

O quadro clínico do secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, baleado ao princípio da tarde de hoje na Beira, centro de Moçambique, continua preocupante, exigindo uma assistência "intensiva e especial", disse à Lusa fonte do maior partido da oposição.

Horácio Calavete, chefe da mobilização da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) na Beira, disse que a última informação clínica indicava que uma das balas perfurou a barriga, tendo atravessado os pulmões e se alojou entre duas costelas, carecendo de uma cirurgia especializada.

O dirigente da Renamo adiantou que o secretário-geral do seu partido e deputado se mantinha numa clínica privada da Beira, sem confirmar informações que dão conta da possibilidade de Bissopo ser transportado para a África do Sul.

O secretário-geral da Renamo foi baleado por desconhecidos no princípio da tarde de hoje na Beira, tendo o seu segurança morrido no local, segundo fontes oficiais do maior partido de oposição.

Ao contrário de informações que davam conta de que Bissopo tinha sido atingido no bairro da Munhava, um bastião da oposição, o incidente ocorreu no bairro da Ponta Gea, centro da Beira, quando saía de uma conferência de imprensa para denunciar alegados raptos e assassínios de quadros da Renamo.

Segundo jornalistas locais ouvidos pela Lusa, os atiradores, que se faziam transportar em duas viaturas, bloquearam o carro em que seguia Bissopo e abriram fogo.

À entrada da clínica, Bissopo estava consciente e fez uma curta declaração à imprensa, descrevendo o incidente.

"Estava a passar em frente dos serviços de viação. Vi um carro de dupla cabine a virar e alguém a tirar uma [arma automática] Kalashnikov e disparar. Me atingiram", disse Bissopo.

O guarda-costas do secretário-geral da Renamo morreu no local, tendo os outros ocupantes da viatura sofrido ferimentos ligeiros.

A polícia na Beira disse que continua a trabalhar para esclarecer o caso, sem mencionar o envolvimento do secretário-geral da Renamo nem de outros membros do partido.

A Frelimo e a Renamo têm vindo a acusar-se mutuamente de sequestro e assassínio dos seus dirigentes na província de Sofala.

Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.

Afonso Dhlakama não é visto em público desde 09 de outubro, quando a sua residência na Beira foi invadida pela polícia, que desarmou e deteve, por algumas horas, a sua guarda.

Nos pronunciamentos públicos que tem feito nos últimos dias, Dhlakama afirma ter voltado para Sadjundjira, distrito de Gorongosa, mas alguns círculos questionam a fiabilidade dessa informação, tendo em conta uma alegada forte presença das forças de defesa e segurança moçambicanas nessa zona.

A Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica para o diálogo com o Governo e que se encontra bloqueado há vários meses.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, tem reiterado a sua disponibilidade para se avistar com o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição para acomodar as novas regiões administrativas reivindicadas pela oposição.

Lusa