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Nesta entrevista Josephine Ouedraogo discute o papel essencial que a educação tem na construção das democracias em África, além de colocar em questão o papel do relatório da ONU sobre educação neste continente. Ela atenta que a participação efetiva dos movimentos sociais de base é essencial para se atingir os objetivos a que se propõe o Forum Social Mundial.

Qual é a sua opinião sobre o relatório 2010 da UNESCO sobre o estado da Educação no mundo?

Joséphine Ouedraogo : É um relatório completo, com numerosas informações. Ele propõe estratégias e ações precisas. Mas nada de original em particular. Não podemos esperar nada de diferente de um relatório que vem de uma instituição como a ONU, elaborado dentro de um quadro institucional estatal. É significativo que ele insiste em concentrar os esforços sobre os grupos mais marginalizados: populações de zonas rurais pobres, de zonas de conflito, de campos de refugiados. Eu fiquei muito tocada por uma das conclusões princiapis, a saber que em razão da atual crise mundial, a educação está em perigo, apesar dos meios financeiros e das estratégias investidos pela comunidade internacional e pelos Estados.

Quais são os pontos fracos que há nesta leitura da educação mundial de hoje em dia ?



O objetivo do relatório parece fazer um grande chamado por uma ajuda internacional eficaz em favor da educação, como se a insuficiência de recursos fossem a principal causa da falha da proposição do decênio “Educação para todos”. Mas o dinheiro não é tudo. Em meu ponto de vista, a grande lacuna do relatório, é de não ter articulado as políticas, sociais e educativas notadamente, e as estratégias de desenvolvimento. Falta uma análise da relação direta entre o modelo de educação e aquele de “desenvolvimento”. Na África subsaariana, as políticas educativas produzem a mesma coisa que o modelo do sistema: exclusão, desemprego, pobreza. Mesmos problemas, memos resultados. O relatório não contém uma visão diferente, alternativa...

Não existem na África visões educativas diferentes, como por exemplo, a teoria de Paulo Freire e sua pedagogia da libertação em relação a América Latina?

Os intelectuais africanos formularam proposições. Imaginamos uma democracia verdadeira, bem superior às instituições e aos parlamentos existentes. Desde as ONGS até as associações, como ENDA, elas promoveram visões distintas. Mas isso não se traduz politicamente. Nos programas educativos – e na sociedade – continua a prevalecer o conceiro de transferencia de saberes. Não nos contruimos com as pessoas. A educação e a democracia deveriam ser uma construção comum. Devemos alfabetizar usando as palavras dos camponeses, se vamos a uma vila agrícola, compreender que o exercício da leitura e da escritura devem contribuir para uma participação efetiva. Infelizmente, utilizamos geralmente a leitura e a escrita para impor outros esquemas. A África não tem esta identidade própria, que os latino-americanos construiram ao longo dos últimos cinquenta anos ou nos últimos cem anos. Eu penso que falta uma aliança mais estreita entre os intelectuais e a população de base. Deve-se compreender que devemos trabalhar com o povo, evoluir com eles, nos aproximar, estar a vontade com as pessoas. Temos partidos políticos bem avaçados ideologicamente, pensadores bem desenvolvidos, personalidades da África austral que tentaram exprimir a alma africana. Mas há um tipo de fratura entre a inteligentsia e o povo.

Como reduzir esta fratura ?

Os intelectuals devem compreender e aceitar que nossa população pode ser um tor político, que pensa, que já acumulou um saber, que exprime sua confiança nela mesma, que não se complexa e nem se cala quando alguém chega com seu prjeto de desenvolvimento e uma caminhonte 4x4. Eu posso lhe assegurar que há pessoas que são bastante ativas: as organizações dos camponeses e das mulheres, ou a vida que se exprime nas rádios livres do Senegal, por exemplo. Há uma enorme riqueza. Agora, deve-se fazer pressão sobre os dirigentes desses paises para que eles aceitem estas populações, que eles falem com elas, que eles compreendam que não devemos substituir a reflexão e a ação destas populações.

O Fórum social africano, mais particularmente, o Fosum social mundial podem ser espaços que reforçam esta nova forma de participação da base ?

Eles foram concebidos para reforçar esta contrução a partir da sociedade civil, para monstrar que aqueles que jamais tiveram a possibilidde de se exprimir são belos e vivem vem. Deve-se acompanhar as pessoas nas reflexões sobre o futuro. Porque não os perguntamos jamais o que eles querem, qual é sua visão de futuro. Como se eles não tivessem um futuro de fato...E portanto, eles tem um.

Neste sentido, o FSM que será em Dakar em 2011 – segunda sessão africana, após Nairóbi, em 2007 – representa ma abordagem a este processo?

Sem dúvida alguma. Mas deve ser feito um salto qualitativo em relação a Nairóbi. A África de base deve estar presente em Dakar. É nosso desafio como secretáriado do FSM. Isso exigerá muito trabalho, mas é essencial de fazer os parceiros se movimentarem, as organizações de base e a população.

Trata-se entao de um tipo de Mumbai africano ? Quando da sessão do FSM na ìndia, a participação de base, dos movimentos sociasi, - e mais particularente dos “dalits” – foi muito importante...

É sobre isso que refletimos, para tirar as lições. Como aprender com a história? Nós devemos prevenir de fazer um Mumbai em Dakar. Neste sentido, o FSM 2011 será uma ocasião importante, que exige muito de nosso trabalho. E após o FSM dever-se-á continuar a construir. O FSM é um espaço privilegiado: há a África, os outros continentes do Sul e assim o Norte solidário. São todas expressões dos povos. Nós nos sentimos todos preocupados, pensando de formas diferentes e em busca de alternativas a um sistema que nos reduz ao papel de produtores e consumidores. Nós devemos encontrar um espaço próprio neste mundo globalizado, de podermos exprirmir, para viver algo de diferente.

* Joséphine Ouedraogo, secretária executiva do ENDA-Tiers Monde

**Traduzido do original em francês por Alyxandra Gomes Nunes

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