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O medo generalizado e a militarização da questão urbana

O medo de sofrer uma agressão física, de ser vítima de um crime violento não constitui nada de novo; ele se fez presente desde sempre e se faz presente, hoje, em qualquer cidade. Porém, em algumas bem mais que em outras, e em algumas muito, muitíssimo mais que em outras. Uma “fobópole” é, dito toscamente, uma cidade dominada pelo medo da criminalidade violenta. Mais e mais cidades estão, na atual quadra da história, assumindo essa característica.

Em Fobópole: O medo generalizado e a militarização da questão urbana, Marcelo Lopes de Souza, Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e vencedor do Prêmio Jabuti, analisa a forma pela qual a problemática da (in)segurança pública, tendo por pano de fundo o medo generalizado, vai se convertendo em um formidável fator de (re)estruturação do espaço e da vida urbanos.

O termo “fobópole” é o resultado da combinação de dois elementos de composição, derivados das palavras gregas phóbos, que significa “medo”, e pólis, que significa “cidade”. A palavra condensa aquilo que se tenta qualificar como cidades nas quais o medo e a percepção do crescente risco, do ângulo da segurança pública, assumem uma posição cada vez mais proeminente nas conversas, nos noticiários da grande imprensa etc., o que se relaciona, complexamente, com vários fenômenos de tipo defensivo, preventivo ou repressor, levados a efeito pelo Estado ou até mesmo pela sociedade civil – o que tem claras implicações em matéria de organização do espaço urbano e relações sociais. A imagem-síntese da “fobópole” engloba muito daquilo que, agora e no futuro, deve estar no cerne das preocupações em torno da justiça social e da liberdade, que correm o risco de ser cada vez mais sacrificadas em nome da “segurança”.

Ainda que metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo sejam exemplos notavelmente didáticos da problemática em pauta, não apenas em muitas outras grandes cidades brasileiras os riscos direta ou indiretamente relacionados com a criminalidade violenta ganham importância e visibilidade: mais e mais, também cidades médias vão assumindo destaque nesse cenário. Conquanto o centro das atenções da obra seja a realidade brasileira, guardar uma perspectiva internacional é imprescindível para se evitar um provincianismo analítico. Por isso, Fobópole, de Marcelo Lopes de Souza, contém numerosas comparações entre a realidade brasileira e aquelas de outros países. Por tudo isso, Fobópole é um livro essencial para a compreensão da questão urbana neste começo de século.

Sobre o autor

Marcelo Lopes de Souza é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde coordena o Núcleo de Pesquisas sobre Desenvolvimento Sócio-Espacial (NuPeD), vinculado ao Departamento de Geografia. Foi pesquisador visitante nas universidades de Tübingen (Alemanha) e Londres, além de pesquisador e professor visitante na Universidade Técnica de Berlim. Bacharel e mestre em Geografia (UFRJ) e especialista em Sociologia Urbana (UERJ), doutorou-se em Geografia (tendo como área complementar Ciência Política) na Universidade de Tübingen. Paralelamente às suas atividades de pesquisa e docência, tem assessorado movimentos sociais e prefeituras em temas relacionados com estratégias e instrumentos de transformação das cidades.

Três de seus quatro últimos livros, O desafio metropolitano (com o qual foi um dos agraciados com o Prêmio Jabuti em 2001, na categoria Ciências Humanas e Educação), Mudar a cidade, ABC do desenvolvimento urbano e A prisão e a ágora foram também publicados pela Bertrand Brasil.