KABISSA-FAHAMU NEWSLETTER 19

Cinco pilotos da TAP cumprem uma paixão: voar na imensidão dos espaços de África em mono-motores. A expedição aérea junta o sentido da descoberta, o reencontro com os lugares de origem e um espírito de missão humanitária. Três pilotos nasceram em Moçambique e é em Maputo que fazem a entrega de três toneladas de medicamentos. Habituados à tecnologia dos cokpits nos aviões de médio ou longo curso em que trabalham diariamente, experimentam em África o voo à vista com mapas detalhados, as limitações e os desafios dos pequenos aviões.

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A regulação na área da energia e a criação de organizações nacionais em todos os membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) estão em debate na 2ª Conferência da Associação dos Reguladores de Energia dos Países de Língua Oficial Portuguesa (Relop), que acontece de segunda a quarta-feira em Cabo Verde. Organizada pela Agência de Regulação Económica (ARE) de Cabo Verde, o evento reúne na Cidade da Praia, capital do arquipélago, entidades de Portugal, Angola e Brasil, a que Moçambique irá juntar-se como observador.

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Trata-se de eventos organizados pelo Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA), e tem como propósito criar nos profissionais de comunicação social uma visão comum para o atendimento de questões ambientais, como interpretar os fenómenos naturais, os desastres ambientais e os problemas da degradação ambiental e suas causas. Os promotores da iniciativa pretendem também reflectir com os jornalistas sobre a busca de soluções sustentáveis na gestão dos recursos ambientais para as gerações presentes e futuras.

A participação de Angola na cimeira do grupo das nações mais industrializadas do mundo (G8), que se realiza de 8 a 10 do corrente mês na cidade de L'Aquila (Itália), constitui um marco "muito importante e prestígio" para o país. Esta consideração é do embaixador dos Estados Unidos da América em Angola, Dan Mozena, que disse ter abordado este assunto, recentemente, na capital do país, com o presidente angolano José Eduardo dos Santos.

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Uma vasta operação de auditorias das actividades de todos os Governos que serviram durante os 24 anos do regime do Presidente e general Lansana Conté, falecido a 23 de Dezembro último, será lançada proximamente em Conakry. Este anúncio foi feito na noite de sábado (4), em Conakry, num comunicado do Conselho Nacional para a Democracia e Desenvolvimento (CNDD), junta no poder na Guiné Conakry, logo depois da morte do general Conté.

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O presidente zimbabweano, Robert Mugabe, tratou segunda-feira o secretário de Estado norte-americano para os Assuntos Africanos, Johnnie Carson, de "idiota" por alegadamente querer ensinar-lhe como gerir o novo governo de coligação no Zimbabwe. Mugabe e Carson encontraram-se na semana passada na Cimeira da União Africana (UA) em Sirtes onde, segundo o presidente zimbabweano, o governante americano, ex-embaixador no Zimbabwe, procurou dar conselhos, a ele e aos seus parceiros do Governo de coligação, sobre a maneira de gerir o país.

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Quando a lustrosa Mercedes preta estacionou em frente ao tribunal, um funcionário correu para a porta do passageiro, se curvou profundamente, e então a abriu, com cerimônia. Um pé, calçado num sapato acinzentado, apareceu, seguido pelo resto do homem, Frederick Chiluba. Por uma década, Frederick Chiluba foi presidente de Zâmbia. Hoje, mais de sete anos depois que deixou o cargo, uma corte está decidindo se ele roubou de seu miserável povo. Um veredicto deve ser anunciado em 20 de julho.

O chefe de Estado cabo-verdiano, Pedro Pires, é convidado de honra do director-geral da Unesco, Koïchiro Matsuura, para a cerimónia de entrega do Prémio Houphoët-Boigny pela Procura da Paz 2008, terça-feira, ao presidente brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva. Para o efeito, o Presidente cabo-verdiano viaja a 6 de Julho para Paris, onde deverá manter encontros com Lula da Silva e outras personalidades que estarão presentes na cerimónia de entrega do galardão.

O comité provincial do MPLA do Zaire, reunido ontem (4), em Mbanza Kongo, na sétima sessão ordinária, mostrou-se preocupado com o atraso na execução de alguns projectos sociais na região, nos domínios da construção civil, água e energia eléctrica. Segundo o comunicado final do evento, os participantes recomendaram que o partido faça o acompanhamento dos programas em execução.

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As eleições para as assembleias provinciais, gerais e presidenciais, agendadas para 28 de Outubro, mexem com os moçambicanos e Armando Guebuza palmilha o país, em «Presidências Abertas e Inclusivas». «O comboio volta a apitar entre Inhamitanga e Moatiza» titula a capa do Diário de Moçambique, anunciando uma reportagem nas centrais. O destaque tem razão de ser. Paralisado pela guerra, há 26 longos anos que o comboio não fazia esta histórica ligação.

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De acordo com o Cacique Guarani Adriano Morinico, os deputados propositores do Fórum estariam tomando decisões a favor de setores da sociedade que são contrários à demarcação das terras indígenas. O indígena ainda afirma que os parlamentares Nilson Gonçalves (PSDB, presidente do Fórum), Darci de Matos (DEM, vice-residente) e Kennedy Nunes (PP, secretário) estariam agindo de maneira ilegal, visto que a demarcação das terras é de competência do governo federal (CF/88 Art. 231).

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Em matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo de 14 maio de 2009 (http://arquivoetc. blogspot. com/2009/ 05/demetrio- magnoli-monstros -tristonhos. html), intitulada “Monstros tristonhos”, o geógrafo Demétrio Magnoli critica e acusa agressivamente as Universidades Federais de Santa Maria (UFSM) e de São Carlos (UFSCAR) e também a mim, Kabengele Munanga, Professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. ??As duas universidades são criticadas e acusadas por terem, segundo o geógrafo, criado ”tribunais raciais” que rejeitam as matrículas de jovens mestiços que optam pelas cotas raciais.

No caso da Universidade Federal de Santa Maria, trata-se apenas de Tatiana de Oliveira, cuja matrícula foi cancelada menos de um mês após o início do curso de Pedagogia.. No caso da Universidade Federal de São Carlos, trata-se do estudante Juan Felipe Gomes. O acusador acrescenta que um quarto dos candidatos aprovados na UFSCAR pelo sistema de cotas raciais neste ano de 2009 teve sua matrícula cancelada pelo “tribunal racial” dessa universidade. ??A questão que se põe é saber se além desses estudantes, cujas matrículas foram canceladas, outros alunos mestiços ingressaram em cerca de 70 universidades públicas que aderiram à política de cotas. Se a resposta for afirmativa, os que tiveram sua matrícula cancelada constituem casos raros ou excepcionais que mereceriam a atenção não apenas de Demétrio Magnoli, mas também de todas as pessoas que defendem a justiça e a igualdade de tratamento. ??Mas por que esses casos raros, que constituem uma exceção e não a regra, foram “injustiçados” pelas comissões de controle formadas nessas universidades para evitar fraudes, comissões que o sociólogo Demétrio rotula de “tribunais raciais”? Por que só eles? Por que não ocorreu o mesmo com os outros mestiços aprovados? Houve realmente injustiça racial ou erro humano na avaliação da identidade física dessas pessoas que foram simplesmente consideradas brancas e não mestiças apesar de sua autodeclaração? Os erros humanos, quando são detectados, devem ser corrigidos pelos próprios humanos, como o foi no caso dos estudantes gêmeos da UnB. As injustiças, flagrantes ou não, devem ser apuradas e julgadas pela própria justiça que, num estado democrático de direito como o Brasil, deverá prevalecer.

Acho que os estudantes Tatiana de Oliveira e Juan Felipe Gomes, e tantos outros que o sociólogo menciona sem entretanto nomeá-los, devem procurar um advogado para defender seus direitos se estes tiverem sido efetivamente violados pelos chamados “tribunais raciais”. Entendo que o geógrafo Demétrio tenha pena deles, considerando a sua sensibilidade humana. ??Se realmente houve erro humano na verificação da identidade desses estudantes, a explicação não está na citação intencionalmente deturpada de algumas linhas extraídas de um texto introdutório de três páginas ao livro de Eneida de Almeida dos Reis, intitulado MULATO: negro-não-negro e/ou branco-não-branco, publicado pela Editora Altara, na Coleção Identidades, São Paulo, em 2002. ??Veja como é interessante a estratégia de ataque do geógrafo Demétrio Magnoli. Ele escondeu de seus leitores o título do livro de Eneida de Almeida dos Reis, assim como a casa editora e a data de sua publicação para evitar que possíveis interessados pudessem ter acesso à obra para averiguar direta e pessoalmente o fundamento das acusações. De fato, ele não disse absolutamente nada sobre o conteúdo desse livro, e passa a impressão de ter lido apenas vinte linhas do total de três páginas da introdução, a partir das quais constrói seu ensaio e sua acusação. Com sua inteligência genuína, acho que ele poderia ter feito uma pequena síntese desse livro para seus leitores; se ele o tivesse mesmo lido, entenderia que nada inventei sobre a ambivalência genética do mestiço que não estivesse presente no próprio título da obra “Mulato: negro-não-negro e/ou branco-não-branco”. Desde quando a palavra ambivalência é sinônimo de “monstro tristonho”? Estamos assistindo à invenção, pelo geógrafo, de novos verbetes dos dicionários da língua portuguesa? ??O livro de Eneida de Almeida dos Reis resultou de uma pesquisa para dissertação de mestrado defendida na PUC de São Paulo sob a orientação de Antonio da Costa Ciampa, Professor do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia da PUC São Paulo. Ele foi convidado a fazer a apresentação do livro, na qualidade de professor orientador, e eu para escrever a introdução, na qualidade de ex-professor na disciplina “Teorias sobre o racismo e discursos antirracistas”, ministrada no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP. O livro se debruça sobre as peripécias e dificuldades vividas pelos indivíduos mestiços de brancos e negros, pejorativamente chamados mulatos, no processo de construção de sua identidade coletiva e individual, a partir de um estudo de caso clínico.

É uma pena que nosso crítico acusador não tenha tido a coragem de apresentar a seus leitores o verdadeiro conteúdo desse livro, resultado de uma meticulosa pesquisa acadêmica, e não da minha fabulação. ??Para entender porque essas pessoas mestiças foram consideradas brancas, apesar de terem declarado sua afrodescendência, é preciso voltar ao clássico “Tanto preto quanto branco: estudos de relações raciais”, de Oracy Nogueira (São Paulo: T.A. Queiroz, 1985). Se o geógrafo Demétrio tivesse lido esse livro, acredito que teria entendido porque as pessoas brancas que possuem algumas gotas de sangue africano são consideradas pura e simplesmente negras nos Estados Unidos – apesar de exibirem uma fenotipia branca – e brancas no Brasil. Ensina Nogueira que a classificação racial brasileira é de marca ou de aparência, contrariamente à classificação anglo-saxônica que é de origem e se baseia na “pureza” do sangue. Do ponto de vista norteamericano, todos os brasileiros seriam, de acordo com as pesquisas do geneticista Sergio Danilo Pena, considerados negros ou ameríndios, pois todos possuem, em porcentagens variadas, marcadores genéticos africanos e ameríndios, além de europeus, sem dúvida. Quando essas pessoas fenotipicamente brancas e geneticamente mestiças se consideram ou são consideradas brancas no decorrer de suas vidas e assumem, repentinamente, a identidade afrodescendente para se beneficiar da política das cotas raciais, as suspeitas de fraude podem surgir. Creio que foi o que aconteceu com os alunos cujas matrículas foram canceladas na UFSM e na UFSCAR. Se não houver essa vigilância mínima, seria melhor não implementar a política de cotas raciais, porque qualquer brasileiro pode se declarar afrodescendente, partindo do pressuposto de que a África é o berço da humanidade.. ??Lembremo-nos de que no início dos debates sobre as cotas colocava-se a dificuldade de definir quem é negro no Brasil por causa da mestiçagem. Falsa dificuldade, porque a própria existência da discriminação racial antinegro é prova de que não é impossível identificá-lo. Senão, o policial de Guarulhos não teria assassinado o jovem dentista identificado como negro pelo cidadão branco assaltado, e os zeladores de todos os prédios do Brasil não teriam facilidade para orientar os visitantes negros a usar os elevadores de serviço. Por sua vez, as raras mulheres negras moradoras dos bairros de classe média não seriam constantemente convidadas pelas mulheres brancas, quando se encontram nos elevadores, para trabalhar como domésticas em suas casas. Existem casos duvidosos, como o dos alunos em questão, que mereceriam uma atenção desdobrada para não se cometer erros humanos, mas não houve dúvidas sobre a identidade da maioria dos estudantes negros e mestiços que ingressaram na universidade através das cotas. ??Bem, o geógrafo Demétrio Magnoli leva ao extremo a acusação a mim dirigida quando me considera um dos “ícones do projeto da racialização oficial do Brasil”. Grave acusação! Infelizmente, ele não deu nomes a outros ícones. Nomeou apenas um deles, cuja obra não leu, ou melhor, demonstra não ter lido. Mas por que só o meu nome mencionado? Porque sou o mais fraco, pelo fato de ser brasileiro naturalizado, ou o mais importante, por ter chegado ao ponto mais alto da carreira acadêmica? Isso parece incomodá-lo bastante! Um negro que chegou lá, ao topo da carreira acadêmica, numa das melhores universidades do país, mas nem por isso esse negro deixou de ser solidário, pois milita intelectualmente para que outros negros, índios e brancos pobres tenham as mesmas oportunidades. ??

De acordo com as conclusões assinaladas no livro de Eneida de Almeida dos Reis, muitos mestiços têm dificuldades para construir sua identidade por causa da ambivalência (Mulato: negro-não-negro e/ou branco-não-branco) , dificuldades que eles teriam superado se tivessem política e ideologicamente assumido uma de suas heranças, ou seja, a sua negritude, que é o ponto nevrálgico de seu sofrimento psicológico. Se o sociólogo acusador tivesse lido este livro e refletido serenamente sobre suas conclusões, ele teria percebido que não alimento nenhum projeto ou plano de ação para suprimir a mestiçagem no Brasil. Isto só pode ser chamado de masturbação ideológica, e não de análise sociológica, nem geográfica! Como seria possível suprimir a mestiçagem, que é um fato fundamental da história da humanidade, desafiando as leis da genética e a vontade dos homens e das mulheres que sempre terão intercursos interraciais? Nem o autor do ensaio sobre as desigualdades das raças humanas, Arthur de Gobineau, chegou a acreditar nessa possibilidade. Se as leis segregacionistas do Sistema Jim Crow no Sul dos Estados Unidos e do Apartheid na África do Sul não conseguiram fazê-lo, os ícones da racialização oficial do Brasil, entre os quais nosso colega me situa, terão esse poder mágico e milagroso que ele lhes atribui? ??Entrando na vida privada, gostaria que o sociólogo soubesse que tenho um filho e uma neta mestiços que não são monstros tristonhos como ele pensa, pois são educados para assumir sua negritude e evitar assim os graves problemas psicológicos apontados na obra de Eneida de Almeida Dos Reis, através da indefinida personagem Maria, (ver p.39-100). Como se pode dizer que os mestiços são geneticamente ambivalentes e que política e ideologicamente não podem permanecer nessa ambivalência e ser por isso taxado de charlatão acadêmico? Creio que se trata apenas de uma reflexão que decorre das conclusões do próprio livro e que de per si não constituiria nenhum charlatanismo. Não seria um contra-senso e um grave insulto à USP que esse “charlatão acadêmico” tenha chegado ao topo da carreira acadêmica? E que tenha orientado dezenas de doutores hoje professores nas grandes universidades brasileiras, como a USP, UNICAMP, UNESP, UFMG, UFF, UFRJ, Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal de São Luiz do Maranhão, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Candido Mendes, PUC de Campinas, etc. Creio que, salvo o geógrafo Demétrio, os que me conhecem através de textos que escrevi, de minhas aulas e de minhas participações nos debates sociais e intelectuais no país e no exterior, não me atribuiriam esse triste retrato. ??Disse ainda o geógrafo Demétrio que “do ponto mais alto da carreira universitária, o antropólogo professa a crença do racismo científico, velha de mais de um século, na existência biológica de raças humanas, vestindo-a curiosamente numa linguagem decalcada da ciência genética”. Sinceramente, não entendo como Demétrio conseguiu tirar tanta água das pedras. Das 20 linhas extraídas, de maneira deturpada, de um texto de três páginas de introdução, ele conseguiu dizer coisas horríveis, como se tivesse lido tudo que escrevi durante minha trajetória intelectual sobre o racismo antinegro.

A colonização da África, contrariamente às demais colonizações conhecidas na história da humanidade, foi justificada e legitimada por um corpus teórico-cientí fico baseado nas idéias evolucionistas e racialistas produzidas na modernidade ocidental. Teria algum sentido para mim, que milito contra o racismo, professar o racismo científico para lutar contra o racismo à brasileira? Acho que nosso geógrafo quer me transformar num demente que não sou. As pessoas que leram seu texto no jornal O Estado de S. Paulo podem pensar que eu sou esse negro ex-colonizado que professa as mesmas idéias do racismo científico que postulou a inferioridade e a desumanidade dos africanos, incluída a dele mesmo. Como entender que meus alunos de Pós-graduação, a quem ensino há vinte anos “As teorias sobre o racismo e discursos antirracistas”, uma disciplina freqüentada por alunos da USP, de outras universidades e outros estados, têm a coragem de ocupar um semestre inteiro para escutar profissões de fé em favor do racismo científico? ??Se o geógrafo Demétrio quer saber mais sobre mim, ingressei na Faculdade em 1964, aos vinte e dois anos de idade. Tive aulas de Antropologia Física com um dos melhores biólogos e geneticistas franceses, Jean Hiernaux. Uma das primeiras coisas que ele me ensinou era que a raça não existe biologicamente. Através de suas aulas, li François Jacob, Nobel de Fisiologia (1965) e um dos primeiros franceses a decretar que a raça pura não existe biologicamente; e J.Ruffie, Albert Jacquard e tantos outros geneticistas antirracistas dessa época. Portanto, sei muito bem, e bem antes de Demétrio que o racismo não pode ter mais sustentação científica com base na noção das raças superiores e inferiores, que não existem biologicamente. Sei muito bem que o conteúdo da raça enquanto construção é social e político. Ou seja, a realidade da raça é social e política porque tivemos na história da humanidade povos e milhões de seres humanos que foram mortos e dominados com justificativa nas pretensas diferenças biológicas. Temos em nosso cotidiano, pessoas discriminadas em diversos setores da vida nacional porque apresentam cor da pele diferente. Nosso sistema educativo é eurocêntrico e nossos livros didáticos são repletos de preconceitos por causa das diferenças. Não sou um novato que ingressou ontem na universidade brasileira. No Brasil, fui introduzido ao pensamento racial nacional por grandes mestres, como João Baptista Borges Pereira, que foi meu orientador no doutoramento, Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Oracy Nogueira, entre outros. Não sei onde estava Demétrio nessa época e em que ano ele descobriu que a raça não existe. Acho um exagero querer me dar lição de moral sobre coisas que eu conheço muito antes dele. Isto não quer dizer que ele não possa me ensinar temas pertinentes à geografia, como por exemplo, o que se pode ler em seu livro sobre a África do Sul – “Capitalismo e Apartheid”, publicado pela Editora Contexto, São Paulo, 1998, que oferece algumas informações interessantes sobre a história do sistema do apartheid. Esse livro faz parte da bibliografia recomendada na disciplina ministrada na Graduação, não obstante algumas incorreções históricas nele contidas. ??Um dos maiores problemas da nossa sociedade é o racismo, que, desde o fim do século passado, é construído com base em essencializações sócio-culturais e históricas, e não mais necessariamente com base na variante biológica ou na raça.

Não se luta contra o racismo apenas com retórica e leis repressivas, não somente com políticas macrossociais ou universalistas, mas também, e, sobretudo, com políticas focadas ou específicas em benefício das vítimas do racismo numa sociedade onde este é ainda vivo. É neste sentido que faço parte do bloco dos intelectuais brancos e negros que defendem as políticas de ação afirmativa e de cotas para o acesso ao ensino superior e universitário. Na cabeça e no pensamento de Demétrio Magnoli, todos os que fazem parte desse bloco querem racializar o Brasil, e isso faz parte de um projeto e de um plano de ação. Que loucura! ??Defendemos as cotas em busca da igualdade entre todos os brasileiros, brancos, índios e negros, como medidas corretivas às perdas acumuladas durante gerações e como políticas de inclusão numa sociedade onde as práticas racistas cotidianas presentes no sistema educativo e nas instituições aprofundam cada vez mais a fratura social. Cerca de 70 universidades públicas estaduais e federais que aderiram à política de cotas sem esperar a Lei ainda em tramitação no Senado entenderam a importância e a urgência dessa política. Acontece que essas universidades não são dirigidas por negros, mas por compatriotas brancos que entendem que não se trata do problema do negro, mas sim do problema da sociedade, do seu problema como cidadão brasileiro. Podemos dizer que todos esses brancos no comando das universidades querem também racializar o Brasil, suprimir os mestiços e incentivar os conflitos raciais? Afinal, podemos localizar os linchamentos e massacres raciais nos Estados onde se encontram as sedes das universidades que aderiram às cotas? Tudo não passa de fabulações dos que gostariam de manter o status quo e que inventam argumentos que horrorizam a sociedade. Quem está ganhando com as cotas? Apenas os alunos negros ou a sociedade como um todo? Quem ingressou através das cotas? Apenas os alunos negros e indígenas ou entraram também estudantes brancos da escola pública? ??Concluindo, penso que existe um debate na sociedade que envolve pensamentos, filosofias e representações do mundo, ideologias e formações diferentes. Esse pluralismo é socialmente saudável, na medida em que pode contribuir para a conscientização de seus membros sobre seus problemas e auxiliar a quem de direito, o legislador e o executivo, na tomada de decisões esclarecidas. Este debate se resume a duas abordagens dualistas. A primeira compreende todos aqueles que se inscrevem na ótica essencialista, segundo a qual a humanidade é uma natureza ou uma essência e como tal possui uma identidade genérica que faz de todo ser humano um animal racional diferente dos demais animais. Eles afirmam que existe uma natureza comum a todos os seres humanos em virtude da qual todos têm os mesmos direitos, independentemente de suas diferenças de idade, sexo, raça, etnias, cultura, religião, etc. Trata-se de uma defesa clara do universalismo ou do humanismo abstrato, concebido como democrático. Considerando a categoria raça como uma ficção, eles advogam o abandono deste conceito e sua substituição pelos conceitos mais cômodos, como o de etnia.

De fato, eles se opõem ao reconhecimento público das diferenças entre brancos e não brancos. Aqui temos um antirracismo de igualdade que defende os argumentos opostos ao antirracismo de diferença. As melhores políticas públicas, capazes de resolver as mazelas e as desigualdades da sociedade, deveriam ser somente macro-sociais ou universalistas. Qualquer proposta de ação afirmativa vinda do Estado que introduza as diferenças para lutar contra as desigualdades, é considerada, nessa abordagem, como um reconhecimento oficial das raças e, conseqüentemente, como uma racialização do Brasil, cuja característica dominante é a mestiçagem. Ou, em outras palavras, as políticas de reconhecimento das diferenças poderão incentivar os conflitos raciais que, segundo dizem, nunca existiram. Assim sendo, a política de cotas é uma ameaça à mistura racial, ao ideal da paz consolidada pelo mito de democracia racial, etc. Eu pergunto se alguém pode se tornar racista pelo simples fato de assumir sua branquitude, amarelitude ou negritude? Como se identifica então o geógrafo Demétrio: branco, negro, mestiço ou Demétrio indefinido? Pelo que me consta, ele se identifica como branco, mas não aceita que os negros e seus descendentes mestiços se identifiquem como tais e lutem por seus direitos num país onde são as grandes vítimas do racismo. A menos que ele negue a existência das práticas racistas no cotidiano brasileiro, e as diferenças de cor, sexo, classe e religiões que exigiriam políticas diferenciadas. ??A segunda abordagem reúne todos aqueles que se inscrevem na postura nominalista ou construcionista, ou seja, os que se contrapõem ao humanismo abstrato e ao universalismo, rejeitando uma única visão do mundo em que não se integram as diferenças. Eles entendem o racismo como produção do imaginário destinado a funcionar como uma realidade a partir de uma dupla visão do outro diferente, isto é, do seu corpo mistificado e de sua cultura também mistificada. O outro existe primeiramente por seu corpo antes de se tornar uma realidade social. Neste sentido, se a raça não existe biologicamente, histórica e socialmente ela é dada, pois no passado e no presente ela produz e produziu vítimas. Apesar do racismo não ter mais fundamento científico, tal como no século XIX, e não se amparar hoje em nenhuma legitimidade racional, essa realidade social da raça que continua a passar pelos corpos das pessoas não pode ser ignorada. ??Grosso modo, eis as duas abordagens essenciais que dividem intelectuais, estudiosos, midiáticos, ativistas e políticos, não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Ambas produzem lógicas e argumentos inteligíveis e coerentes, numa visão que eu considero maniqueísta. Poderão as duas abordagens se cruzar em algum ponto em vez de se manter indefinidamente paralelas? Essa posição maniqueísta reflete a própria estrutura opressora do racismo, na medida em que os cidadãos se sentem forçados a escolher a todo momento entre a negação e a afirmação da diferença. A melhor abordagem seria aquela que combina a aceitação da identidade humana genérica com a aceitação da identidade da diferença. Para ser um cidadão do mundo, é preciso ser, antes de mais nada, um cidadão de algum lugar, observou Milton Santos num de seus textos.

A cegueira para com a cor é uma estratégia falha para se lidar com a luta antirracista, pois não permite a autodefinição dos oprimidos e institui os valores do grupo dominante e, conseqüentemente, ignora a realidade da discriminação cotidiana. A estratégia que obriga a tornar as diferenças salientes em todas as circunstâncias obriga a negar as semelhanças e impõe expectativas restringentes. ??Se a questão fundamental é como combinar a semelhança com a diferença para podermos viver harmoniosamente, sendo iguais e diferentes, por que não podemos também combinar as políticas universalistas com as políticas diferencialistas? Diante do abismo em matéria de educação superior, entre brancos e negros, brancos e índios, e levando-se em conta outros indicadores socioeconômicos provenientes dos estudos estatísticos do IBGE e do IPEA, os demais índices do Desenvolvimento Humano provenientes dos estudos do PNUD, as políticas de ação afirmativa se impõem com urgência, sem que se abra mão das políticas macrossociais. ??Não conheço nenhum defensor das cotas que se oponha à melhoria do ensino público. Pelo contrário, os que criticam as cotas e as políticas diferencialistas se opõem categoricamente a qualquer política de diferença por considerá-las a favor da racialização do Brasil.

As leis para a regularização dos territórios e das terras das comunidades quilombolas, de acordo com o artigo 68 da Constituição, as leis 10639/03 e 11645/08 que tornam obrigatório o ensino da história da África, do negro no Brasil e dos povos indígenas; as políticas de saúde para doenças específicas da população negra como a anemia falciforme, etc., tudo isso é considerado como racialização do Brasil, e virou motivo de piada. ??Convido o geógrafo Demétrio Magnoli a ler o que escrevi sobre o negro no Brasil antes de se lançar desesperadamente em críticas insensatas e graves acusações. Se porventura ele identificar algum traço de defesa do racismo científico em meus textos, se encontrar algum projeto ou plano de ação para suprimir os mestiços e racializar o Brasil, já que ele me acusa de ícone desse projeto, ele poderia me processar na justiça brasileira, em vez de inventar fábulas que não condizem com minha tradicionalmente pública e costumeira postura. ?

*Kabenguele Munanda é professor de Antropologia da Universidade de São Paulo - USP

*Por favor envie comentários para [email][email protected] ou comente on-line em http://www.pambazuka.org

Segundo Chomera a fraca qualidade deriva do facto do Gabinete de Reconstrução (GARE) ter contratado artesãos no lugar de pedreiros para efectuar o trabalho. Esta fragilidade foi reconhecida à Comissão de Petições da Assembleia da República(AR), quando esta o notificou para se pronunciar acerca das queixas dos populares dos bairros que mais foram assolados pelas explosões do Paiol. O ministro da MAE disse que com a extinção do GARE as reclamações seriam atendidas pelo Gabinete de Apoio e Reconstrução(GACORE) unidade do seu ministério criada para dar continuidade ao trabalho do GARE.

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A Assembleia da República (AR) aprovou, na última segunda-feira, a lei que acresce poderes das mulheres em relação aos homens. O pretexto foi de que esta é a maior e principal vítima da violência doméstica. Assim, dentro em breve, irritar uma mulher poderá terminar na cadeia, indemnização e até ser expulso da sua própria residência. Contudo, esta lei é bastante contestada por aqueles que consideram que ela não está de acordo com a realidade moçambicana.

Maputo é alimentado pela sua cintura verde. De uma forma geral, nunca faltam couves, alfaces, folha de abóbora, de feijãonhemba, enfim, aquele conjunto de verduras que fazem o básico da alimentação da nossa população. Por linha, também se associam outros produtos da terra que as zonas irrigadas oferecem, entre pimentos, cenouras, espinafres, beterrabas, beringelas. Decididamente, as zonas verdes conseguem alimentar a cidade de Maputo, não apenas de forma epocal, mas ao longo de todo o ano. Só que os produtores destes vegetais vegetam, porque o rendimento mal dá para enfrentarem a carestia da vida.

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Embora o tema da igualdade racial já faça parte da agenda do governo há pelo menos oito anos, e ocupe cada vez mais espaço na agenda das organizações da sociedade civil, o segundo dia da II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial mostrou que a mídia brasileira continua indiferente ao tema.

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Está aqui uma potente arma de "arremesso político"! Se a Frelimo, ela própria que faz do Estado (recursos humanos, recursos financeiros, património, etc) sua propriedade, aprovasse esta Lei, não tenho dúvidas que teria sido o "acontecimento do ano"!!

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A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) iniciou no dia 25 de Junho, na sede do município da Caála, província do Huambo, Angola, um seminário para formação de divulgadores da Lei de Terra, visando aumentar a divulgação do projecto nas comunidades rurais. O seminário, com a duração de três dias, foi aberto pelo administrador-adjunto do município da Caála, Bento Sandulo, que solicitou aos participantes maior divulgação do projecto, por forma a evitarem-se conflitos entre famílias e a ocupações ilegais de parcelas para o processo de construção nas comunidades rurais.

Rio de Janeiro - Os brasileiros pretos ou pardos são as maiores vítimas de doenças ligadas a condição de vida precária, chamadas também de doenças da pobreza. A informação consta do Relatório Anual das Desigualdades Raciais do Brasil, divulgado há pouco pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com base na Pnad 2007 e nas informações mais recentes do Ministério da Saúde. A pesquisa mostra que os pretos e pardos são a maioria absoluta dos mortos por malária (60,6%), por hanseníase (58,3%), por leishimaniose (58,1%), por esquistossomose (55,5%) e por diarréia (50%).

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To: ÓRGÃOS DE SOBERANIA DA GUINÉ-BISSAU
PETIÇÃO CONTRA A LEI DA CIDADANIA DA GUINÉ-BISSAU
Se Amilcar Cabral fosse vivo, que nacionalidade lhe reservariam os políticos e os governantes guineenses?

Ser guineense é mais do que ter o Bilhete de Identidade ou o Passaporte da República da Guiné-Bissau!
Ou nos decidimos a reformar de imediato a própria Constituição da República e a rever as Leis da República, antes mesmo da Reforma das Forças Armadas, ou corremos sérios riscos de nos desmembrar como povo!

A Comissão Nacional de Eleições, CNE, anunciou que 26 Julho será a data da segunda volta das eleições presidenciais antecipadas, frente a frente está Malam Bacai Sanha, pelo PAIGC e Kumba Yala pelo PRS. Antecedendo 15 dias do escrutínio, simbolicamente, a 10 de Julho reinicia a campanha eleitoral, onde está em jogo não só a presidência do país mas também a sobrevivência política de um dos candidatos.

O problema da Guiné-Bissau, não é a falta da realização das eleições quer as legislativas, quer as presidenciais. Estas se realizaram regularmente em 1994, dentro do prazo Constitucional e irregularmente e de forma sucessiva em 1999, em 2005 devido as interrupções atípicas de mandatos dos Presidentes eleitos, derivados do conflito político-militar em 1998, e do golpe de Estado em 2003 e agora em 2009, derivado do assassinato do Presidente no passado mês de Março. As únicas eleições que ainda não se realizaram são as autárquicas. E por consequência, a Administração Regional continua bastante centralizada e obsoleta. É de notar, que salvo nos períodos de Transição Política, nenhum Presidente da República e Governo eleitos na Guiné-Bissau, conseguiu concluir o seu mandato. No cumprimento normal do mandato, as eleições presidenciais na Guiné-Bissau, só teriam lugar em 2010.

Mas as eleições presidenciais não são “ panaceias”, para os graves problemas internos da Guiné-Bissau. Porém, são importantes em democracia, para a alternância do poder e na situação concreta e actual da Guiné-Bissau, para a legitimação do poder pelas urnas, a fim de pôr termo as funções de interinidade do Presidente da República e do Presidente da Assembleia Nacional Popular. Do ponto de vista externo, serve para agradar a Comunidade Internacional, de que o “ Poder tem a legitimidade popular “, portanto é democrático. E sendo a democracia um dos princípios ponderados pela Comunidade Internacional, tanto no quadro das relações de cooperação bilateral, como no quadro da cooperação multilateral entre países e organizações, torna-se importante sua realização por forma a facultar possibilidades de negociações de fundos e apoios financeiros para um país extremamente dependente da ajuda externa, até para pagamentos de salários aos seus funcionários públicos.

Mas do ponto de vista interno os grandes males da instabilidade institucional e governativa permanente, do narcotráfico, do crime organizado transnacional, dos ajustes de contas, da falta de garantia de segurança à integridade física dos cidadãos, das crónicas carências económicas e sociais e da incapacidade de resposta do poder político legalmente instituído, não serão totalmente resolvidos, com eleição de um novo Presidente, ou mesmo com uma eventual remodelação do Governo. A situação em que as coisas chegaram, há medidas que apenas seriam paliativas e não soluções para os reais problemas da falência do Estado. Pois o problema fundamental é o da ausência do Estado. Será que o Presidente a ser eleito terá condições e ambiente político propício, à semelhança de um verdadeiro “Estado de Direito e democrático “, para garantir o cumprimento da Constituição e ser garante da unidade nacional? Muitas expectativas estão sendo criadas com as próximas eleições presidenciais, contudo o perfil do candidato a ser eleito, bem como a sua futura actuação como “ garante da estabilidade e da unidade nacional” terão um peso substancial no novo cenário político pós- eleitoral. Mas não devemos ter grandes ilusões, na medida em que a escolha poderá não recair naquele que supostamente reúna as melhores condições de momento, para liderar os destinos do povo guineense e assegurar a convivência pacífica das instituições da República.

A pobreza e o analfabetismo constituem estrangulamentos à democracia na Guiné-Bissau. Este estado de coisas, adicionado à situação de revolta recalcada da população, com os últimos actos de violência: assassinatos, torturas e prisões de figuras públicas políticas, crimes esses impunes pela inoperância do poder judiciário, despido de capacidade de investigação eficiente dos crimes de natureza política, pode resultar em dois cenários: a abstenção e /ou voto do protesto, com influência decisiva nos resultados eleitorais. E o nosso povo, ainda não dispõe de maturidade política suficiente para distinguir “ homem ou mulher com sentido de Estado” capaz de conduzir o país com equilíbrio, para assegurar a coabitação no regime semi-presidencial, sem grandes colapsos. E por desconhecimento ou mesmo incompreensão desses valores pouco significativos para ele, dada a ausência do Estado na vida dos cidadãos em geral, a pertença étnica tem orientado significativamente o sentido do voto nas eleições presidenciais, em detrimento da identidade nacional. E por outro lado, a satisfação imediata de algumas carências quotidianas do eleitorado pelos candidatos material e financeiramente poderosos, também tem determinado o sentido do voto nas eleições. Daí não compreender a posição maioritária dos candidatos às eleições presidenciais, em persistir na manutenção da data de 28/06 /2009, num pacto “ contra legis” (contrário a lei), que reduziu os 21 dias da campanha presidencial, sempre necessários para que a mensagem de todos os candidatos tenha maior abrangência nacional possível. Esta posição me parece ter privilegiado a rapidez para o preenchimento do posto “ vacante do Presidente da República”, relegando para o segundo plano o tempo necessário e útil para uma boa campanha ao nível nacional, bem como a questão da segurança interna dos cidadãos necessária não só durante o período eleitoral, mas também após às eleições. Mais preocupante é, face a comprovada ausência do “ jus imperii”do Estado (poder de império, autoridade) do Estado, a maioria dos candidatos advoga “ soluções internas para os graves problemas que assolam o país, sem no entanto apresentarem “ um projecto político” com acções concretas, que visam a criação de uma nova identidade do “Estado de Direito e Democrático” na Guiné – Bissau, com mecanismos que asseguram: a subordinação real dos militares ao poder político, o controlo total da soberania nacional, o valor à vida e a dignidade dos guineenses, a cultura da paz e do respeito pelas instituições democráticas e um poder judiciário forte. É fácil dizer que nós os guineenses podemos resolver os nossos problemas. Mas difícil é, encontrarmos nós próprios, soluções adequadas para esses graves problemas. Pois se assim não fosse, já teríamos ultrapassado vários problemas.

O que me parece evidente é que estamos mais “ vocacionados” em criar problemas do que resolvê-los. Mas se ainda entendermos que somos capazes de resolver internamente os nossos problemas sem subsídio à solução externa, já é tempo de colocarmos isso em evidência. E daríamos por finda a polémica, que divide a opinião dos cidadãos guineenses e até à Comunidade Internacional, quanto a necessidade ou não de uma “ força de estabilização internacional “, na Guiné-Bissau, ou mesmo de um protectorado à semelhança do que ocorreu no Timor - Leste. Antes que seja tarde, devemos utilizar todos os mecanismos legais úteis, quer ao nível interno, quer ao nível internacional, para salvaguardar a nossa soberania nacional, sob pena de sua alienação total, com consequências imprevisíveis para a sub-região Oeste Africana. Pois o país tem apenas, um milhão quatrocentos e setenta e dois mil e quatrocentos e quarenta e seis habitantes, e nele não pode coabitar “ duas ou mais ordens internas (a do poder civil, a dos militares) e a dos narcotraficantes. A consumar este facto, significa fim do Estado.

A extensão do mandato do UNOGBIS, Gabinete das Nações Unidas de Apoio à Consolidação da Paz na Guiné-Bissau, até Dezembro do ano em curso completando os dez anos, seguida do estabelecimento do Gabinete Integrado das Nações Unidas (UNIOGBIS), em Janeiro de 2010, que continuaria com a mesma missão, acrescida a do apoio ao reforço das capacidades das instituições da República, no combate ao narcotráfico e ao crime organizado, embora não resolverá todos os males da ausência do Estado, mas será um passo positivo, no grande pesadelo que se vive no país, com o tráfico de drogas e o crime organizado transnacional.

* Antonieta Rosa é Advogada e Mestre em Direito do Estado (Direito Público).
* Artigo publicado em
*Por favor envie comentários para [email][email protected] ou comente on-line em http://www.pambazuka.org

Convidado de honra do III Festival Mundial de Artes Negras, que se realiza de 1 a 14 de Dezembro, em Dakar, o Brasil deverá participar com uma delegação composta com mais de duas mil pessoas. O Fesman2009 foi lançado em Junho pelos presidentes do Senegal Abdoulaye Wade, e o presidente brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva, sendo o Estado da Bahia e a capital Salvador, de maioria negra em sua população, o palco da cerimónia de abertura.

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O Banco Internacional de São Tomé e Príncipe, com capital social de 10 milhões de dólares, colocou à disposição dos seus clientes um novo serviço de consulta rápida na Internet «BISTP KWA Non». Segundo João Cristóvão, presidente do banco, o novo serviço, funcionará com autonomia, rapidez e segurança, deixando o horário da agência uma limitação. «O nosso serviço de banca por Internet, respeita os mais elevados protocolos de segurança, de acordo com as melhores práticas internacionais.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) confirmou a segunda volta entre Malam Bacai Sanhé e Koumba Yala. São os dois mais votados, entre 11 candidatos que concorreram as eleições de Domingo, 28 de Junho. Dados da Comissão Nacional de Eleições indicam que o candidato do PAIGC obteve 39,59 por cento, 133.786 votos, Kumba Yala, do PRS, com 99.428 votos representando 29, 42 por cento do resultado

A resistência cabindesa anunciou que três soldados angolanos foram mortos e dois ficaram feridos numa emboscada da guerrilha em Cabinda. Segundo um comunicado assinado por Estanislau Miguel Boma, Chefe do Estado Maior das FAC (Forças Armadas de Cabinda) Unificadas, braço armado da FLEC, a acção ocorreu às 10h35 de 27 de Junho quando uma patrulha das Forças Armadas de Angola (FAA) foi alvo de uma emboscada numa «picada liga as aldeias de Cata Xivava e Caio Contene, perto do cemitério de Madoco» precisa o documento.

Pelo menos 140 pessoas morreram, 816 ficaram feridas e "várias centenas" foram detidas por causa dos protestos da etnia muçulmana uigur em Urumqi, capital da região ocidental chinesa de Xinjiang, informou nesta segunda-feira o Departamento de Segurança regional. A polícia "deteve vários centenas de participantes, incluindo mais de dez figuras-chave que provocaram os distúrbios" em Xinjiang, onde a metade da população pertence à minoria uigur, de língua turcomana, assinala um comunicado divulgado pela agência oficial de notícias Xinhua.

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O Ordem dos Advogados de Moçambique levantou um debate que é novo e de extrema importância para Moçambique como um Estado de Direito. O debate é novo, mas o país o conhece há muito tempo. Trata-se da matéria referente ao Tribunal Penal Internacional (TPI). O Tribunal Penal Internacional é criado pelo Estatuto de Roma, aprovado em 1998. Em 2002 o Tribunal foi estabelecido em Haia e tem competência para julgar os crimes de guerra, os crimes contra a humanidade e os genocídios, para além dos crimes de agressão que entretanto ainda não estão devidamente definidos.

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Promover o direito das mulheres
Lyn Ossome
2009-07-03

Em Syte, Libia, se organiza o decimo terceiro encontro da Uniao Africana sob o tema " Investir na agricultura para o crescimento econômico e a segurança alimentar". Lynn Ossome da Organização Solidariedadde pelos Direitos das Mulheres Africanas (SOAWR) coloca um desafio às autoridades africanas: a luta pela manutenção do direito à terra pelas mulheres africanas na agenda desenvolvimentista do continente.

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A mudança que precisamos, Obama no Gana
Charles Abugre
2009-07-09

Neste artigo, Abugre sustenta que com a visita do presidente Barack Obama ao Gana, um novo vento de mudancas esteja soprando nas relacoes internacionais com o continente africano. Sendo o presidente um filho da África e tido com muito estimo e zelo. Indubitavelmente o discurso de Obama tera um impacto na forma como o mundo se relaciona com a África.

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ALGUNS TEMAS QUE SERÃO ABORDADOS:
Direitos humanos - Gênero – Saúde - Redação de projetos - Captação de recursos - Ação Afirmativa – História e cultura Afro-Brasileira – Arquivo documental
Serão selecionados trinta participantes, incluídos nas seguintes categorias e de acordo com os critérios relacionados:

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KABISSA-FAHAMU NEWSLETTER 18

Angola tem registados 12.710 refugiados de diferentes nacionalidades, revelou hoje fonte do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Segundo o representante do ACNUR em Angola, Bohdan Nahajlo, citado pelo Jornal de Angola, destes refugiados, 11.900 são provenientes da República Democrática do Congo (RDC), vivendo neste país há mais de 30 anos. Os restantes são procedentes do Ruanda, Burundi, Costa do Marfim, Somália, Eritreia, Chade e Iraque.

O Brasil vai transferir tecnologia nas áreas de biocombustíveis, alimentos e infra-estrutura ao Senegal, informou hoje fonte oficial. O ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, encontra-se em Dacar, onde chefia uma missão empresarial à África Subsaariana. Após os encontros de Miguel Jorge com o Presidente Abdoulaye Wade e o ministro do Estado da Infra-estrutura, Cooperação Internacional, Transporte Aéreo e Ocupação do Território, Karim Wade, o Governo senegalês anunciou a realização de duas missões técnicas ao Brasil nos próximos meses.

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O alfabeto cabo-verdiano, aprovado em Janeiro de 2009, vai começar a ser divulgado em todo o país a partir de meados deste mês através dos órgãos de comunicação social, disse hoje fonte oficial na Cidade da Praia. Segundo a linguista e directora do Departamento de Ciências Sociais e Humanas do Instituto de Investigação e do Património Culturais de Cabo Verde, Adelaide Lima, a divulgação enquadra-se no programa “Pa Le i Skrebe Lingua Kabuverdianu” (Para Ler e Escrever na Língua Cabo-Verdiana).

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Vários responsáveis de países hoje reunidos no forúm do Atlântico Sul manifestaram-se "abertos" a um reforço da presença das Nações Unidas na Guiné-Bissau para garantir a estabilidade e confiança, disse hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros. Luís Amado, que participou no encontro em Lanzarote (Espanha), afirmou à agência Lusa que trocou impressões com vários ministros presentes, como da Nigéria, Senegal, Cabo Verde ou Marrocos acerca da situação na Guiné-Bissau.

A Índia vai disponibilizar 15 milhões de dólares (10,7 milhões de euros) para programas de gestão ambiental em Moçambique, revelou hoje em Maputo a ministra para a Coordenação e Acção Ambiental, Alcinda Abreu. A ministra falava no âmbito da assinatura de um memorando de entendimento entre o Ministério e o Instituto de Energias e Recursos da Índia (TERI), destinado a aumentar a capacidade de adaptação de Moçambique às mudanças climáticas, reflorestamento, prevenção da degradação de solos e formação técnica.

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O embaixador português em São Tomé e Príncipe, Fernando Machado, assegurou hoje que Portugal vai manter o seu compromisso com o arquipélago no domínio da cooperação técnica militar. “Quero assegurar ao governo são-tomense que, não obstante a crise económica e financeira que afecta todos os países do mundo e Portugal não é excepção, continuaremos a prestar toda a colaboração possível, designadamente no domínio da cooperação técnica policial”, disse Fernando Machado.

O secretário-executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), Domingos Simões Pereira, desafiou hoje os africanos a encontrarem o seu próprio modelo de desenvolvimento, defendendo que este deve assentar na educação. "Se pudéssemos imaginar um mundo fechado onde o resto não contasse devíamos ser capazes de encontrar os melhores mecanismos para sair da situação em que nos encontramos. Mas, o contexto das ligações económicas e das parcerias oferece-nos oportunidades que têm que ser melhor utilizadas. Só poderemos utilizá-las melhor se conseguirmos conceber, ousar inovar, sermos persistentes e capazes de planificar o nosso próprio desenvolvimento", disse Simões Pereira.

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A decisão de um eventual envio de uma força internacional de paz para a Guiné-Bissau, face aos últimos acontecimentos registados no país, cabe unicamente aos guineenses, disse o primeiro-ministro cabo-verdiano. José Maria Neves, que a 5 deste mês se disse "perplexo" com as mortes dos antigos ministros Hélder Proença e Baciro Dabó, este último candidato às presidenciais do próximo dia 28, sustentou que "o mais importante é dizer que os conflitos não podem ser resolvidos através de assassinatos

O governo guineense advertiu, sexta-feira (12), que punirá severamente a propagação de boatos, na sequência de rumores na quinta-feira que insistentemente anunciaram o falso assassínio do chefe de Estado-Maior das Forças Armadas interino, Zamora Induta.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, acompanhado de mais de 50 empresários, chegou à Guiné Equatorial com o objetivo de "estudar as possibilidades de investimento" em diferentes setores nesse país da África Subsaariana. Um comunicado divulgado, sexta-feira (12), pelo escritório de Informação e Imprensa do Governo guinéu-equatoriano afirma que os empresários brasileiros querem investir em setores como comunicações, alimentação, indústria e calçado, entre outros.

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A União Europeia (UE) exprimiu o seu apoio ao projecto do Governo nigeriano de conceder amnistia aos militantes separatistas da região do Delta do Níger que estão prontos para depor as armas e engajar-se para a paz. De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Nigéria, este apoio foi manifestado durante uma reunião ministerial da troika Nigéria-UE em Praga, na República Checa.

Os colégios eleitorais abriram suas portas hoje (12) no Marrocos às 8h (4h em Brasília), em eleições municipais para as quais foram convocados mais de 13 milhões de eleitores. A normalidade e a baixa participação de eleitores foram as características dominantes nas primeiras horas. Um membro de uma mesa eleitoral do bairro de Hassan, em Rabat, disse à Agência Efe que, até o momento, quase não houve votos, mas espera-se que, após a oração do meio-dia – a mais importante para os muçulmanos –, o número de eleitores aumente.

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Os restos do presidente do Gabão, Omar Bongo Ondimba, partiram hoje (11) de Barcelona para Libreville, a bordo de um avião da aeronáutica espanhola, comprovou um jornalista da AFP. Após uma breve homenagem militar na presença de autoridades gabonesas e espanholas nas pistas do aeroporto de Barcelona, o avião com os restos de Bongo decolaram às 11h20 (06h20 de Brasília). A morte de Omar Bongo Ondimba, 73 anos, 41 deles no poder, foi anunciada segunda-feira (8) em Barcelona, onde estava internado desde inícios de maio.

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Ao encontro da mesa estendida sob o frondoso micondó, vereis o resplandecente mar da Baía Ana de Chaves: micondó é o mesmo que kabasera, é o baobá, é o imbondeiro.

Querida Detinha:

Venho falar-te da doçura das mangas, as mãos das nossas mães, aromas: os que sobem dos esburacados tectos das cozinhas, a caminho das nuvens. Venho falar-te da justeza e da generosidade dos frutos.

Amo os sofisticados cheiros e sabores da Guiné. Volta e meia, ensaio o meu próprio caldo de mancarra, caril de amendoim para os moçambicanos, moamba de jinguba para os angolanos. Na sua sisudez, a mancarra não se apaga na versatilidade dos nomes, cumpre o destino de ser alimento.

Amo o chabéu que é vermelho, sem ser sangue, soufflé e dendém. Amo o aroma da cafriela, os pedaços de frango corados em manteiga, de volta ao molho de limão e fartas rodelas de cebola. A escalada faz escancarar portas e janelas, mas todos sabemos que é muito nham-nham o seu arroz. Kandja e badjiki estão entre as minhas imortais memórias de Bissau. E olha que não mencionei a carne corada, essa iguaria da quadra natalícia que a saudosa Ivete um dia me serviu com tanto carinho.

Porque amor com amor se paga, quero, amiga, que tu e todos os teus irmãos e irmãs visitem as minhas ilhas. São ricas e verdes, as ilhas; os ilhéus, quezilentos. As quezílias cegas, sabes bem, tolhem a acção e candrezam, atrofiam, os frutos. Tal como na tua amada Guiné, também os nossos frutos são bondosos e os aromas pacíficos. Diz um velho provérbio são-tomense, que a casa nunca é estreita para a família. Venham pois!

Ao encontro da mesa estendida sob o frondoso micondó, vereis o resplandecente mar da Baía Ana de Chaves: micondó é o mesmo que kabasera, é o baobá, é o imbondeiro. Se despida de vaidades, é benigna a função dos nomes.

Tu e todas as manas e manos provarão primeiro uma marca registada da ilha do Príncipe, o bôbô frito, banana madura frita.

Depois será o calu ou calulu, o blablá e o djógó, de confecção meticulosa, com muita hortaliça picada, óleo de palma e peixe, preferencialmente, que é o que o mar mais dá. São pratos cerimonais, testes de aptidão.

Em tempos não longínquos, a sua depreciação num banquete acarretava opróbrio perpétuo. O izaquente, doce ou de óleo de palma, requer igualmente perícia e demora. Não escapareis à pontaria da banana com peixe, o cozido, infalível como o sol, benévolo como a chuva.

A banana está para os são-tomenses como o arus para vós. Cozem-na. Assam-na. É frita e é guisada e seca ao sol. A fruta-pão é muito estimada, mas não tem o mesmo carisma.
O molho no fogo, meu prato predilecto, é um refogado de peixe seco e fumado, com makêkê e quiabo, tudo homogeneizado em óleo de palma. O meu pai gostava muito da azagôa, feijoada com carne fumada e nacos de mandioca.

O vinho de palma, de tão fresco e doce será verde, como a decisão da poetisa e seu povo. Haverá uma bandeja enfeitada com folhas: todos os frutos de África e bananas, felizes nas suas variações de tamanho, feitio, de nomes, de cores e sabores. As crianças trarão alfarrobas e tamarindos, um ramo de salambás, o mesmo que veludo na Guiné. Cuidado com o safú: se o trincares, ficarás nas ilhas.

À despedida, a mãe comporá um lento cestinho de mangas para ti. A primeira vez que vi uma manga da Guiné, maravilhei o tamanho daquele coração de gigante, amarelo-alaranjado e tão doce como as minúsculas mangas do meu país, que as nossas mangas mais doces são pequenas, quais corações de pomba. Ainda hoje, quando vejo uma manga enorme, do Brasil ou da Colômbia, é uma «manga da Guiné» que estou a ver. Essa manga é luminosa. É pacífica. E alimenta. Como o brindji de bagre que comeremos com a mão nua. Como os cantos do tchinchor e do ossobó, as únicas explosões que romperão o silêncio.

Sei que em Bissau, beberemos juntas, um dia, o fresco sumo da kabasera, sentadas em redor do fogo.

*Conceição Lima é poeta, natural de São Tomé e Príncipe, esta crônica foi publicada em África 21.

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Em 1971 o filme “French Connection” versou a conexão francesa no tráfico de heroína da Ásia, via Europa, para os Estados Unidos. Hoje, os especialistas no tráfico de drogas daqui deste lado do lago falam cada vez mais na “Lusophone Connection” (Conexão Lusófona) uma rede de contrabando de cocaína para a Europa e que, segundo alguns, poderá em breve envolver também heroína, esta última a circular via Moçambique.

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Arlindo, 67 anos, não só se descobriu seropositivo na terceira idade, como convive com o agravante de ter infectado a mulher de 60 anos; a jovem universitária Neusa foi infectada numa relação ocasional. Os depoimentos dos dois estão no livro SIDA - Doença dos Outros, do psicólogo Jacob Vicente, o primeiro livro a retratar o que é viver com o HIV em Cabo Verde.

Os doadores tencionavam aumentar o apoio ao orçamento de Moçambique mas decidiram não o fazer por causa do “nível de desempenho … (desiludiu)” do governo no ano passado, particularmente no que se refere à justiça e ao desenvolvimento económico, segundo o Embaixador da Irlanda, Frank Sheridan, que chefia o grupo de doadores do apoio ao orçamento, o G19.

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A petrolífera Shell aceitou pagar 15 milhões e meio de dólares de indemnizações aos familiares dos activistas que em 1995 foram enforcados na Nigéria na sequência de protestos contra a exploração de petróleo. O acordo foi obtido extrajudicialmente em Nova York num caso iniciado há 13 anos e cujo julgamento deveria ter início para a semana.

Representantes das Nações Unidas afirmam que quatro agências humanitárias que foram expulsas do Sudão receberam permissão para voltar ao país. O responsável pelas questões humanitárias da ONU, John Holmes, disse que a Care, Save the Children e a Mercy Corps vão retomar o seu trabalho em Darfur.

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O decano do foto-jornalismo moçambicano perdeu a vida de forma súbita, no intervalo entre as 19.40 e 19.55 horas, enquanto aguardava pelo início do serviço noticioso das cadeias televisivas nacionais. Beatriz Kiener, viúva de Ricardo Rangel, contou que se apercebeu do funesto acontecimento por volta das 19.55 horas, quando chamou pelo esposo para lhe dar conta do início dos noticiários da televisão. Disse que momentos antes estiveram a conversar sobre a milionária transferência do futebolista português Cristiano Ronaldo, do Manchester United para Real Madrid.

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Em São Tomé e Príncipe cerca de 40 profissionais de sexo estão a receber consultas grátis de ginecologia e testagem voluntária, para evitar gestações indesejadas e infecções transmissíveis sexualmente (ITS), incluindo o HIV. Bá*, uma jovem de 18 anos que perdeu a mãe aos 10, conta que o pai era pescador e não tinha dinheiro para sustentar a família: “Entregou-me a uma conhecida”. Negra forte, olhos castanhos, trajada de saias curtas de cor verde e blusa vermelha, Bá tornou-se profissional de sexo em 2005. Conta que “não foi da minha livre vontade”.

Os Estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) deverão adoptar um Plano de Acção sobre Segurança Alimentar e Nutricional durante a VI Reunião dos Ministros da Agricultura da organização prevista para 2 a 4 de Junho em Brasília, capital do Brasil, soube a PANA de fonte oficial. O plano de acção, a ser submetido à aprovação dos ministros da Agricultura da CPLP, sairá do II Simpósio sobre Segurança Alimentar e Nutricional que terá lugar na capital brasileira em prelúdio à reunião ministerial.

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O Governo cabo-verdiano manifestou sexta- feira a sua profunda preocupação face aos novos acontecimentos na Guiné-Bissau que se traduziram no assassinato a tiro do candidato às eleições presidenciais Baciro Dabó e do ex-ministro da Defesa, Hélder Proença, na sequência duma suposta tentativa de golpe de Estado, soube a PANA na Praia de fonte oficial.

Pelo menos 90 por cento das mulheres tchadianas são vítimas da violência física, moral ou socioeconómica, declarou terça-feira em N'Djamena a presidente da Comissão Género da Liga Tchadiana dos Direitos Humanos, a advogada Allahissem Euphrasie. Falando por ocasião do lançamento duma campanha destinada a pôr termo às discriminações e às violências contra as mulheres, Euphrasie deplorou a persistência destes males.

A secção das mulheres do sector França do Partido Africano para a Independência das Ilhas de Cabo Verde (PAICV, no poder) será oficialmente instalada na próxima sexta-feira em Paris, indicou quinta-feira à PANA uma militante desta formação, Fernanda Semedo. "Vamos aproveitar as festividades dos 10 anos do Sector França para lançar oficialmente as actividades das mulheres do PAICV-França, na presença da secretária nacional das mulheres, Joanilda Alves. Para o nosso partido, é uma tradição atribuir uma posição importante às mulheres", disse Semedo, presidente das mulheres do PAICV para o Sector-França.

Uma reunião organizada sob a égide do Governo maliano e da Organização Internacional da Francofonia (OIF) agrupará na próxima terça- feira em Bamako delegados dos nove países francófonos da África Ocidental designadamente o Benin, o Burkina Faso, a Côte d'Ivoire, a Guiné-Conakry, o Mali, a Mauritânia, o Níger, o Senegal e o Togo sob o lema da participação nas operações de manutenção da paz, soube-se domingo de fonte oficial.

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O Mundo inteiro respirou de alívio, certamente, com a investidura da presidente do Senado, Rose Francine Rogombé, como chefe de Estado interina do Gabão depois da vacatura imposta pela morte do veterano Omar Bongo Ondimba. Alívio porque o acto simbolizou, finalmente, a sobrevivência do princípio da constitucionalidade em África entre as “cinzas” do vulcão dos golpes de Estado “ressuscitado” no continente como meio privilegiado para conquistar ou manter o poder.

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O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou nesta sexta-feira que o G8, o grupo que reúne os sete países mais industrializados do mundo e mais a Rússia, "morreu". "O G8 morreu. Não representa mais nada", disse Amorim, após um evento no Instituto de Estudos Políticos de Paris. "Eu não sei como vai ser o enterro, às vezes o enterro ocorre lentamente."

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O chefe da junta no poder na Guiné-Conakry, o capitão Moussa Dadis Camara, suprimiu quarta-feira à noite o Secretariado de Estado para os Conflitos, satisfazendo assim a reivindicação da família judiciária, em greve geral ilimitada desde segunda-feira passada. A presença duma tal estrutura foi criticada devido às suas competências para julgar assuntos dominiais, já resolvidos pelos tribunais.

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A União para a Democracia e a República (UDR-Mwainda-oposição) no Congo empossou quarta-feira o seu presidente Guy-Romain Kimsoussia, como candidato às presidenciais de 12 de Julho próximo, anunciou um comunicado do referido partido. "O nosso partido decidiu ir às eleições com calma consoante a estratégia adoptada (...). Ele plebiscitou a candidatura de Guy- Romain Kimfoussia e empossou-o enquanto candidato da UDR-Mwinda às eleições presidenciais", indica um comunicado do partido transmitido à PANA quinta-feira em Brazzaville.

Uma reportagem publicada pelo diário britânico Financial Times, nesta sexta-feira, afirma que o Brasil faz parte de uma lista informal de países-chave nas discussões do G20, elaborada pelo governo britânico. Citando "um relatório confidencial" vazado do Ministério do Exterior britânico, o artigo diz que a lista de 11 países - da qual Argentina, México e mesmo a Rússia ficaram de fora - revela um "retrato intrigante" de como o governo britânico "vê o mundo".

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Diretor, dramaturgo, ensaísta, autor, compositor, escritor, poeta. É idéia sua o Teatro do Oprimido – técnica para uns, filosofia de vida para outros, forma de libertação para todos. Apesar da (compreensível) falta de espaço nas corporações brasileiras de mídia, sua genialidade e opção pelos oprimidos o fez reconhecido internacionalmente. Entre os muitos prêmios que recebeu no exterior encontram-se o Officier de l'Ordre des Arts et des Lettres, outorgado pelo Ministério da Cultura e da Comunicação da França, em 1981, e a Medalha Pablo Picasso, atribuída pela Unesco em 1994. Em 2009, foi nomeado pela ONU embaixador mundial do teatro.

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As crianças dos zero aos cinco anos começam, hoje, em todo país, a ser vacinadas contra a poliomielite e o sarampo. O programa de vacinação denominado “ Viva com Saúde”, que vai decorrer até quinta-feira, prevê imunizar quatro milhões de crianças em todo o território nacional e administrar às mesmas a vitamina A e o Albendazol. Compreendido em duas fases, o processo de vacinação começa nas zonas urbanas, de domingo a quinta-feira, e chega às zonas rural, nos dias 28 e 29 do mês corrente.

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A visita de 80 empresários brasileiros à África Subsaariana (Gana, Senegal, Nigéria e Guiné Equatorial) terminou ontem. O balanço dos participantes da viagem, iniciada no domingo (7), pelo Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC) é de que foi uma “missão prospectiva”, apenas de contatos para projetos futuros de aumento do comércio, investimentos e contratação de serviços.

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Numa mensagem divulgada no âmbito do Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, que se assinalou ontem, a OIT estima que mais de 200 milhões de rapazes e raparigas estejam envolvidas em alguma forma de trabalho. A OIT destaca que três em cada quatro dessas crianças e adolescentes estão expostas às piores formas de exploração laboral infantil (tráfico, conflitos armados, escravatura, exploração sexual e trabalhos de risco, entre outros), actividades que "prejudicam de forma irreversível o seu desenvolvimentos físico, psicológico e emocional".

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Quase 50 anos depois do triunfo da Revolução Cubana, as minorias sexuais começam a sentir pela primeira vez que sua voz é ouvida e que podem encontrar um espaço para começar a avançar até uma sociedade mais justa e inclusiva. "Sempre quis ser parte de tudo isso. Não recordo quantas vezes disse a minha mãe: 'eu vou fazer a revolução'", disse Mónica, uma jovem cubana que em dezembro se uniu simbolicamente com sua parceira, Elizabeth, no pátio do governamental Centro Nacional de Educação Sexual (Cenesex).

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Uma classificação que resulta de um inquérito ao custo de vida divulgado esta quarta-feira, em Londres, pela empresa britânica ECA international. Um apartamento decente, com água e luz, em luanda, pode ser arrendado a partir de 15 mil dólares mensais. Na alimentação, uma refeição básica pode custar 100 dólares e o queijo europeu, por exemplo, vende-se a 15 dólares a unidade, segundo o documento.

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Ponto prévio: O Estado é o território, a população e as instituições públicas (Parlamento, Governo e Tribunais). O cidadão saído da população é por isso um elemento constitutivo do Estado que deveria ser tido e achado em pé de igualdade nos assuntos do Estado, mas acaba sempre por ser esquecido quando não engolido mesmo pelos outros cidadãos seus irmãos (?!?) que estão nas instituições por força das escolhas, das imposições ou das manipulações políticas.

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O primeiro-ministro do Zimbabwe, Morgan Tsvangirai (à esquerda na foto junto de Barack Obama), foi aos Estados-Unidos procurar financiamento para o seu país. Resultado: "Os Estados Unidos são amigos dos zimbabuanos, e decidi conceder uma ajuda de 73 milhões de dólares ao Zimbábue", declarou Obama, que se encontrou nesta sexta-feira, na Casa Branca, com o primeiro-ministro zimbabuano, Morgan Tsvangirai.

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São palavras do Primeiro Ministro Rafael Branco, após visita esta segunda-feira a orla costeira da zona nordeste da ilha de São Tomé. O Chefe do Governo confirma o perigo que o Téla Nón, vem denunciado. Foi constatar in loco e viu que a situação é preocupante. Reconheceu que o estado é culpado. Não só uma vez. Para Rafael Branco o estado é 3 vezes culpado.

Praia - As eleições presidenciais em Cabo Verde estão agendadas para 2011, ainda que sem data certa, mas já se começam a mexer os potenciais candidatos afectos às duas principais forças políticas do país, o PAICV e o MpD, na qualidade do principal partido da oposição. Por imperativo da Constituição, o actual Chefe de Estado, o comandante Pedro Pires não poderá concorrer a mais um mandato (já se encontra no seu segundo e último), pelo que o PAICV (partido no poder) terá que apoiar um novo candidato.

O governo da região autônoma do sul do Sudão informou neste domingo que dezenas de pessoas morreram ou ficaram feridas nos confrontos da última sexta-feira (12) entre as forças de segurança regionais e uma milícia tribal. O diretor do escritório do governo da Província do Alto Nilo, Rik Riko, disse à imprensa que milícias do Exército Branco, pertencentes à tribo Al Nuer, a segunda maior da região, atacaram uma caravana de ajuda humanitária da ONU (Organização das Nações Unidas) protegida pelas forças regionais do Exército Popular para a Libertação do Sudão (EPLS).

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O âmbito do Fesman, lançou-se um convite para projetos no domínio da fotografia. Proponha suas obras desde já. A fotografia dispõe de um estatuto particular no festival. Ela tanto se insere na função de arte urbana, quanto como meio permanente para exprimir o sentido do Fesman em um grande número de localidades, em Dakar e nas outras cidades do Senegal.

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A cultura brasileira e, logicamente, a rica música que se faz e consome no país estruturam­se a partir de duas básicas matrizes africanas, provenientes das civilizações conguesa e iorubana. A primeira sustenta a espinha dorsal dessa música, que tem no samba sua face mais exposta. A segunda molda, principalmente, a música religiosa afro­brasileira e os estilos dela decorrentes. Entretanto, embora de africanidade tão expressiva, a música popular brasileira, hoje, ao contrário da afro­cubana, por exemplo, distancia­se cada vez mais dessas matrizes. E caminha para uma globalizaçãotristemente enfraquecedora.

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O facto de a sua candidatura ter sido rejeitada não o afecta, uma vez que tem de continuar a recuperação em Portugal…

Só me afectou moralmente. Excluem a minha candidatura com um argumento muito duvidoso, de que eu não terei suspendido o exercício das funções de Presidente do Tribunal de Contas. É uma brincadeira, tanto podia fazer a suspensão antes como depois.

De onde acha que nasce essa resistência à sua candidatura?

De políticas de chauvinismo e de intolerância que começam a despontar na Guiné, das quais me apercebi quando fui primeiro-ministro. Estava tudo a correr tão bem que tiveram medo que eu me candidatasse a Presidente da República. Toca, dentro da Assembleia Nacional Popular, de criar um movimento no sentido do agravamento das condições de elegibilidade ao cargo de Presidente da República e de acesso aos órgãos de soberania. Que gente como eu, mestiça de sangue, não poderia ter acesso na Guiné a cargos como chefe de Estado Maior das Forças Armadas, Presidente da República, primeiro-ministro…

Uma lei racista.

Uma lei racista aprovada por todos partidos com assento parlamentar e eu senti-me ofendido. Foi em 1999. Fui ter com o Presidente, simbolicamente levei as chaves do meu gabinete, e disse-lhe: ‘Senhor Presidente, se o senhor promulgar essa lei que acabou de ser aprovada eu entrego-lhe estas chaves’. Explicou que a lei não era para esta legislatura, mas eu disse-lhe que era uma questão de honra e que se não servia para o mandato seguinte já não servia naquele momento.

E a lei foi promulgada?

Não, porque sabiam que caindo eu caía o sistema político todo. Eu era a única autoridade legítima face à comunidade internacional, já que a minha nomeação tinha sido feita por um Presidente democraticamente eleito. Malam Bacai Sanhá pode ser preguiçoso, cobarde, não defende ninguém mas quer ser o Presidente de todos os guineenses. Nunca se ouviu aquele homem dizer que os vencimentos estão atrasados seis meses ou que os camponeses estão a ser obrigados a vencer os produtos a preços tão baixos em comparação com a comunidade internacional. E nunca se ouvirá, mas ele quer ser Presidente. Para todo o mundo ele é guineense, porque é mais escuro do que eu. Eu luto pelo meu povo desde os 16 anos de idade, percorri estradas que ainda não tinham sido desminadas porque era necessário. Mas esses senhores que se dizem dignos e intelectuais, quando fazem campanhas andam a dizer, ‘Lá está o Fadul: ele é branco, tenham cuidado porque ele quer trazer os brancos de volta para tornarem a dominar’. Isso é criminoso.

Há condições para que se realizem eleições democráticas?

Eu sou um legalista e quero sempre que a lei seja aplicada. Mas ninguém ignora que já as legislativas foram viciadas pelo narcotráfico e pela corrupção. E agora o Presidente não poderia nomear cargos políticos. Esta chefia ilegítima das Forças Armadas e o primeiro-ministro congeminaram uma força política e militar de dominação do país. Que mata e espanca, que faz tudo o necessário para que não haja uma voz discordante na sociedade.

Como acreditar nessas eleições?

Por isso eu continuo a pedir à comunidade internacional uma atenção pela Guiné-Bissau, que é membro das Nações Unidas.

A solução já só pode vir de fora?

Só pode vir de fora. Não há mecanismos internos. A opressão só será afastada pela força. É preferível que seja uma força exterior, com um mandato das Nações Unidas, legitimada pela ordem civilizada, força contra a qual eles não ousarão dar um tiro sequer, e não sujeitar a Guiné-Bissau a nova sangria.

Os políticos estão reféns da influência dos militares e dos narcotraficantes?

Não diria tanto que são reféns, mas também é verdade. Preferia dizer conluiados. E não só o PAIGC, como muitos partidos da oposição. São oposição quando estão reunidos, mas depois saem de lá e vão entregar relatórios ao partido do poder e à direcção das Forças Armadas, porque com isso recebem benefícios materiais e segurança.

E pensa que se fosse eleito PR teria poder para acabar com essas influências?

Pedia imediatamente aos EUA para que estabelecessem uma base militar na Guiné-Bissau, pois sei que eles necessitam urgentemente de uma naquela região do Atlântico. E que entre EUA, Portugal, Brasil e Angola se estabelecesse uma força militar de pacificação da Guiné-Bissau. É a única forma de os órgãos do Estado voltarem a ter soberania e tenham capacidade para combater o fenómeno do narcotráfico. Chamava-se à Guiné-Bissau o apoio técnico, político, diplomático e financeiro – porque a base seria arrendada e só esse rendimento constituiria vários orçamentos gerais do Estado – e o Governo estaria em condições de elevar o valor dos vencimentos e das pensões, não teria tanta preocupação com o excesso de efectivos, podendo até enviá-los para outras áreas de desenvolvimento do país, como o turismo. E chegando essa força multinacional, já seria possível que o Ministério Público concluísse o trabalho. Há duas semanas, o PGR declarou-se incapaz de concluir os inquéritos, por falta de meios. Quem lhe devia dar os meios? Quem está indiciado nos crimes que ele está a investigar. O Governo, pela pessoa do seu chefe, é um dos indiciados; assistimos à vergonha dos militares terem dito que já sabiam quem eram os responsáveis pelos assassínios, e entregaram seis de 150 páginas. O MP reclamou e Zamora Induta disse que o inquérito era dos militares e que se o MP queria um que o fizesse.

Já teve alguma resposta ao apelo que fez à CPLP?

A CPLP está num silêncio que considero vergonhoso. As comunidades devem ser feitas com base em valores políticos, mas também em valores de honra. E não gosto de conceber esta ideia de comunidade lusófona em que a dignidade não conta nos Estados-membros. Na Commonwealth quando um Estado ofende os direitos do seu povo é imediatamente suspenso até que o povo desse país seja capaz de renovar as suas estruturas com novas pessoas. Na lusofonia isso não está previsto, nem se sente coragem para tanto. Porque há complexos do colonizador e de colonizado. Em 1999, propus a António Guterres a assinatura de um acordo de defesa mútua. Ficou alarmado, dizendo que não sabia se podia por Portugal ser membro da União Europeia. Respondi-lhe que a França também o é e tem acordos com todas as suas ex-colónias. O ideal seria um pacto geral de defesa mútua dentro da CPLP e nesse dia acabavam-se os problemas de segurança internos desses países.

Quais são as razões do silêncio da CPLP após o assassínio de um chefe de Estado?

Eu acho que não passa desses complexos. Porque Portugal já defendeu que se houver decisão da ONU está em condições de fornecer tropas. O Brasil fez o mesmo. Cabo Verde também. Afinal, se até os países pequenos estão de acordo e se comprometem, porque é que a ideia não avança? Fica-se a empurrar a batata quente para a ONU. As Nações Unidas devem ser sensibilizadas pela CPLP e pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental. Não se pode criar um antecedente de impunidade, que permite o abate simples e puro de um chefe de Estado e do chefe de Estado Maior do país.

Mantém a tese de terem sido o actual chefe de Estado Maior e actual primeiro-ministro que fizeram este golpe?

Claro, e esta tese está a avolumar-se na consciência de muita gente. Por exemplo, quando o MP exige que lhe sejam entregues as 144 páginas em falta no inquérito dos militares. É claro que há indiciação do chefe do Governo e dos militares, está evidente.

O relatório incrimina Zamora Induta e Carlos Gomes Júnior?

Sim, com certeza. Toda a sociedade guineense tem agora essa noção clara. Senão por que ocultariam essas páginas?

Significa que são os militares a incriminar o seu líder…

Porque o chefe supremo não está dentro da lógica global das Forças Armadas. Zamora Induta chega lá por que processos? Se estudarmos o seu percurso chegamos à conclusão que é um corpo estranho nas Forças Armadas. Repare: quem anunciou a morte de Ansumane Mané? Zamora Induta. Quem anunciou a morte de Veríssimo Correia Seabra? E quando ele anuncia a morte de Mané é como porta-voz das Forças Armadas. Mas quando anuncia a morte de Veríssimo Correia Seabra, chefe de Estado Maior das Forças Armadas, ele está ao serviço de quem? Não das Forças Armadas, porque não foram estas que mataram Correia Seabra. Foram criminosos dentro do exército. Quem anuncia depois a morte de Tagmé Waié? Zamora novamente. Não é demais? E a seguir começa por se declarar coordenador da chefia das Forças Armadas, ele que nem era chefe de Estado Maior de ramo, consegue saltar aquele paredão hierárquico, que nas Forças Armadas é de betão, e assume-se como coordenador. E em menos de uma semana autoproclama-se Presidente das chefias militares. Sabe-se que Carlos Gomes Júnior ofereceu-lhe um carro todo-o-terreno antes da morte do Presidente. E sabe-se que lhe ofereceu 300 milhões de francos BCEAO (455 mil euros).

Pensa que podem morrer mais pessoas até às eleições?

Sim. Toda a acção produz forçosamente uma reacção. Ora, vai haver sempre gente a contar espingardas e a congeminar uma alteração da situação. Ou gente honesta a querer de facto reconduzir o Estado ao direito. Quem vai cair proximamente, não sei fazer a escala, mas sei que Zamora estará nessa escala de quem vai cair. Pode contar que tem lá lugar cativo.

Bacilo Dabó assustava?

Assustava, sim. Sabia segredos de segurança do Estado. Há quem diga que o Presidente Nino tinha um circuito interno de televisão em casa e que Baciro saberia disso e que foi lá buscar as gravações para as entregar à viúva. Agora o MP quer ouvir a viúva no inquérito, porque ela assistiu à morte do marido.

Voltando às eleições, acha que este clima está a preparar terreno para a eleição do candidato do PAIGC?

Claro, sem sombra de dúvida. Foi o único que declarou publicamente que manteria as actuais chefias militares - que são inconstitucionais - porque elas foram estabelecidas por consenso. Ora não sei se ele terá assistido às reuniões das Forças Armadas, mas não sei qual é o consenso num meio disciplinado e hierarquizado quando alguém salta lá do fundo do poço e se torna chefe de toda a gente. Mas ele diz expressamente que vai mantê-lo.

Se Bacam Sanhá ganhar…

Se isso acontecer vai extremar a radicalização que está a acontecer na sociedade guineense. Se há um grupo que cria artificialmente mecanismos de acesso ao poder não legítimos, há sempre outros que ficarão ofendidos, porque pensam que poderiam lá chegar legitimamente. Quem lhes garante que Zamora tem condições para ser o chefe maior das Forças Armadas?

Teme pela sua vida quando voltar à Guiné-Bissau?

Tenho de sentir medo. Mas ao mesmo tempo a educação que recebi também conta. Se eu tivesse cultura de ladrão, desde que me dessem uma soma gratificante era capaz de ficar calado, como outros estão calados até sabendo mais do que eu da situação. Gostaria de deixar isto claro: não foram as Forças Armadas da Guiné-Bissau que me maltrataram, foi um esquadrão da morte às ordens de Zamora Induta.

*Entrevista publicada originalmente em

*Por favor envie comentários para [email][email protected] ou comente on-line em http://www.pambazuka.org

Tendo a Shell concordado com uma saía da corte com o pagamento de 15.5 milhões de dólares às familias dos nove ativistas ogonis assassinados pelo governo nigeriano em 1995, Sokari Ekie e Firoze Manji argumentam que a vitória não deve ser confundida com justiça. Embora bastante emblemático tenha sido levar a multinacional a julgamento, as questões que envolvem a região do Delta do Niger e as atoricidades da Shell contra o meio ambiente e diretos humanos continuam não-resolvidas e a Shell clama não ter responsabilidade sobre os fatos. Devemos continuar a apoiar numerosos processos contra a Shell.

Em 27 de maio em Londres, SOS Escravos, uma organização que luta contra a prática da escravidão na Mauritânia ganhou um prêmio internacional por sua luta contra esta prática. À esta ocasião, o seu presidente fez um discurso que acampa o sentido de seu combate e apresenta a situação da escravidão na Mauritânia.

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Os doadores tencionavam aumentar o apoio ao orçamento de Moçambique mas decidiram não o fazer por causa do “nível de desempenho … desiludiu” do governo no ano passado, particularmente no que se refere à justiça e ao desenvolvimento económico, segundo o Embaixador da Irlanda, Frank Sheridan, que chefia o grupo de doadores do apoio ao orçamento, o G19

Sheridan falava a 28 de Maio, na cerimónia de promessas de ajuda e acrescentou que “vários membros solicitaram que salientássemos hoje que tinham possibilidades de aumentar o seu apoio orçamental se os resultados tivessem sido melhores e que, pelo menos em certos casos, as afectações são menores do que poderiam ter sido em outras circunstâncias”. Das 40 metas acordadas, o governo só alcançou 20 – comparado com 24 em 2007.

A ajuda não deve ser tida como garantida, avisou Sheridan: “Alguns sectores precisam realmente de melhorar o seu desempenho”.

No ponto mais forte da sua declaração Sheridan disse: “Esperamos e temos confiança que as acções prometidas na esfera anti-corrupção se realizarão durante o ano em curso. São assuntos que não se podem somente repetir de forma rotineira, de ano a ano, sem ter algum progresso a relatar”. Os doadores também “apelaram ao Governo” para que melhore o clima de negócios, se mantenha fiel ao uso sustentável dos recursos naturais, e actue na aplicação da Lei de Terras às comunidades.

Num ponto controverso os doadores também fizeram apelo a que a Lei do Trabalho seja aplicada “da forma mais vantajosa possível”. Isto aparentemente apoia a embaixada dos EUA e o empresariado que fazem pressão para que as ONGs e companhias tragam mais trabalhadores estrangeiros.

Entretanto, os doadores só alcançaram 11 das suas 18 metas mas não houve nenhuma penalização para os que não cumpriram as suas promessas.

Apoio ao orçamento de 2010 será de 472 milhões de US$

Um doador, a Suécia, reduziu o apoio ao orçamento em 3%. Dois doadores aumentaram o apoio ao orçamento. O Canadá duplicou o seu apoio ao orçamento mantendo planos de longo prazo e o Banco Mundial decidiu providenciar como apoio ao orçamento os 40 milhões provados como sendo devidos à crise financeira global. Os restantes 16 doadores mantiveram o nível da ajuda embora alguns tivessem planeado aumentá-la.

O apoio total ao orçamento para 2010 será de 472 milhões de US$, comparados com 445 milhões em 2009. Os quatro maiores financiadores do apoio ao orçamento são o Banco Mundial (110 milhões de US$ em 2010), o Reino Unido (69 milhões), a Comissão Europeia (67 milhões) e a Suécia (42 milhões).

Pela primeira vez os doadores do apoio ao orçamento e seus dois membros associados, os EUA e as Nações Unidas, publicaram também detalhes do apoio aos sectores que, em 2010, será de 374 milhões de US$.

Quem são os G19?

Moçambique tem o maior número de doadores envolvidos no apoio ao orçamento geral na África sub-saariana. Os 19 doadores são conhecidos como o G19 ou PAPs (Parceiros de Apoio Programático). São eles: Alemanha, Áustria, Banco Africano de Desenvolvimento, Banco Mundial, Bélgica, Canadá, Comissão Europeia, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Itália, Noruega, Portugal, Suécia, Suíça e Reino Unido.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) é um membro não signatário, mas por inerência (ex-officio). Os Estados Unidos e as Nações Unidas são membros Membros Associados. Este é um estatuto novo acordado em Março para os doadores não apoiantes do orçamento, que surgiu porque o G19 tinha em grande medida assumido quase exclusividade na política de diálogo com o Governo e dois grandes doadores fora do apoio ao orçamento, Estados Unidos e Japão, objectaram contra a sua marginalização.

O G19 é administrado pela chamada “troika-plus”. Todos os anos é eleito um doador do apoio ao orçameto para a troika por três anos e para presidente no segundo ano. Os “plus” são a Comissão Europeia e o Banco Mundial, descritos no Memorando de Entendimento como os “dois mais influentes doadores dos PAPs”.

A actual troika é composta pela Irlanda (no seu ano final; o Embaixador Frank Sheridan foi presidente no ano passado), a Finlândia (com o Embaixador Karl Alanko como presidente) e o Reino Unido (que acaba de se juntar substituindo a Noruega).

Há um Quadro de Avaliação de Desempenho que actualmente contem 40 indicadores que são avaliados todos os anos numa revisão conjunta governo-doador. Os resultados são publicados como um aide-mémoire, com vários documentos de base. Este ano havia 29 grupos sectoriais de trabalho que se reuniram com frequência em Março e Abril.

Há também uma revisão de meio-ano em Agosto e Setembro que toma em consideração o plano e orçamento antes de ele ser submetido à Assembleia da República.

Metas falhadas sobre governação e economia

A governação está no topo da lista das preocupações dos doadores e 5 das 9 metas acordadas não foram alcançadas. Duas estão relacionadas com justiça penal – o número de casos julgados em tribunal e a percentagem de casos criminais resolvidos. A Ministra da Justiça não forneceu os dados básicos até ao último minuto, impedindo qualquer discussão efectiva; os doadores criticaram isto em particular, tal como também aconteceu em anos anteriores. Alguns instrumentos legais básicos, incluindo o Código Penal e o Código Civil, continuam a estar atrasados. As condições nas prisões são más e o sistema prisional não tem capacidade de gastar o seu orçamento.

Em termos de descentralização, os conselhos consultivos distritais foram criados mas não suficientemente depressa para alcançar a meta. Parte do orçamento foi descentralizado, mas a revisão conjunta concorda que grande parte ainda é controlada a nível central e provincial. Os doadores estão preocupados com a falta de transparência na afectação dos fundos de desenvolvimento do distrito.

Sobre desenvolvimento económico, 6 das 9 metas não foram cumpridas. Duas destas são medidas pela classificação “Doing Business” do Banco Mundial, onde Moçambique desceu em vez de subir. A manutenção de estradas não alcançou as metas - 67% da rede de estradas está em boas ou razoáveis condições, comparadas com a meta de 70% em 2008.

Na agricultura, o governo andou muito lentamente na expansão da irrigação e na atribuição de títulos de terra às comunidades.

Mas o governo foi especialmente elogiado por Frank Sheridan, chefe do G19, por ultrapassar a meta dos camponeses ajudados pelos extensionistas da agricultura e por um aumento significativo do número de extensionistas. Mas o que ele não mencionou foi que um membro do G19, o Banco Mundial, no passado bloqueou as tentativas do governo de recrutar mais extensionistas.

No “capital humano” o governo falhou 6 das 10 metas, incluindo vacinação, terapia anti-retroviral, ratios aluno-professor (71 alunos por cada professor, o que é uma melhoria relativamente a 73 em 2007, mas não chega à meta de 69) e o nível de raparigas de 6 anos na escola (73%, um pouco abaixo da meta de 74% ). Concordou-se em que há um sério problema com a qualidade dos serviços de educação e saúde.

Doadores do G19 querem eleições limpas

Na sequência da falha do governo em punir a óbvia fraude eleitoral em Tete em 2004 e em Nampula no ano passado, os doadores levantaram a questão. Na sua declaração de 29 de Maio, Frank Sheridan, chefe do G19, disse que “os parceiros insistem em sublinhar o potencial enorme para a reputação do país que a realização destas eleições, as mais livres e as mais justas na história de Moçambique, trará” – uma maneira elegante de dizer que a má conduta eleitoral não contestada dá ao país má reputação e desencoraja o investimento. O embaixador da Finlândia, Karl Alanko, próximo chefe do G19, também sublinhou a necessidade de eleições livres e transparentes.

As eleições não fazem formalmente parte do processo da revisão conjunta mas cada vez mais a revisão levanta questões que não têm indicadores formais. Por exemplo, o custo elevado das ligações telefónicas e do acesso à Internet também são levantados pela revisão conjunta.

A revisão faz notar também que a afectação de recursos não reflecte as disparidades regionais (norte-sul e urbano-rural) e de género, na saúde, nutrição, e água. A maior parte do dinheiro devia ser afectado onde é mais necessário.

Sheridan, na sua declaração de 20 de Abril, fez notar que o “crescimento ainda não se reflecte suficientemente no cotidiano do cidadão comum”. A revisão conjunta nota que os elevados níveis de malnutrição continuam uma preocupação. Alanko citou a necessidade de reduzir a pobreza sem aumentar a desigualdade.

Os doadores continuam a dar especial atenção ao caso da corrupção no Banco Austral. A maior parte do crédito malparado passou para os novos proprietários do Banco que recuperaram 59% destas dívidas. O governo reteve 70 dívidas politicamente sensíveis das quais, até agora, só recuperou 26%.

Finalmente houve elogios ao governo em algumas áreas, particularmente a administração fiscal. As receitas fiscais em 2008 representaram 16,3% do PIB, comparado com a meta de apenas 15,5%. O desempenho da saúde foi elogiado, a água e saneamento ultrapassaram as metas e a electrificação está a progredir rápidamente.

Documentos na Internet

Todos os documentos fundamentais, discursos, o novo memorando de entendimento, a revisão de 2008 e os compromissos de 2010, estão publicados em:
http://www.pap.org.mz/
O sítio ODAMOZ tem tabelas relativamente detalhadas sobre a ajuda a Moçambique incluindo ODAmoz Donor Atlas for Mozambique 2008
http://www.odamoz.org.mz/

Governo receoso de questionar doadores

Muitos no governo acreditam que para se manter o fluxo da ajuda não se devem questionar o comportamento e práticas dos PAP, de acordo com uma avaliação independente do desempenho dos doadores. “A um nível político, o GdM não está preparado para sustentar uma crise que possa resultar deste tipo de questionamento”.

Como parte do processo de revisão conjunta, foi levada a cabo pelo IESE (Instituto de Estudos Sociais e Económicos), chefiado por Carlos Nuno Castel-Branco, uma avaliação independente do desempenho dos doadores. As críticas dos doadores ao governo foram feitas abertamente durante os dois meses do processo de revisão, mas o relatório esclarece por que é necessário um método diferente de analisar os doadores. Os funcionários do governo, e mesmo ministros, não criticam os doadores em público nem cara a cara, e em vez disso falam anónimamente a um consultor em quem confiam.

Falando em privado, os funcionários governamentais dizem que “muitos doadores continuam relutantes em ajustar as suas prioridades e estratégias às necessidades e pedidos do GdM”. Isto foi sublinhado num dos poucos comentários públicos do Ministro das Finanças Manuel Chang que, no encontro da revisão conjunta de 29 de Abril pediu aos doadores “o alinhamento da ajuda estrangeira com as prioridades nacionais de desenvolvimento”.

Finalmente, o governo diz em privado que os doadores parecem mais preocupados com regras e procedimentos do que com os resultados reais da ajuda que dão; avaliações são sobre procedimentos e não sobre o impacto social e económico da ajuda.

Doadores só atingem 11 das 18 metas

O desempenho dos PAP em 2008 “melhorou significativamente” em comparação com 2007. Em 2008 os doadores atingiram 11 das suas 18 metas acordadas, em comparação com apenas 8 em 2007. Mas enquanto os doadores não estão a aumentar a ajuda porque o governo não alcança as suas metas, o relatório independente faz notar que não há penalizações para os doadores que não cumprem as suas promessas.

O desempenho foi muito diverso. Foram dados até 38 pontos a cada doador. O Reino Unido foi o único doador a conseguir chegar aos 38. A Bélgica, a Holanda e a Suécia somaram 36, enquanto a Finlândia, a Irlanda e a Espanha fizeram 35.

O pior desempenho foi de longe o de Portugal que apenas somou 15 pontos e é agora o único doador considerado “fraco”. Aparece no relatório como objecto de críticas especiais porque a sua ajuda é feita principalmente através de projectos individuais que não estão ligados às políticas e sistemas do governo.
É de novo levantada a questão da França que reclama que o seu cancelamento da dívida deve ser contado como apoio ao orçamento.

Condições, projectos e canais paralelos

Os doadores não atingiram “nenhuma das três metas na área da consolidação e harmonização da condicionalidade” de acordo com o Aide Mémoire da revisão conjunta governo-doadores. Falando em privado com a equipa do IESE, funcionários do governo foram mais longe e afirmaram que enquanto os doadores simplificavam as condições para atingir esta meta, estavam simplesmente a acrescentar outras condições novas. Disseram também que os doadores estavam a pedir mais relatórios sobre eficiência e eficácia e estavam a ser pressionados para o fazer pelos seus quartéis-generais. O governo contesta também as condições extra e as complexas auditorias especiais e sistemas de aquisição, do Banco Mundial e Banco Africano de Desenvolvimento, e ainda as novas complexidades introduzidas pela Comissão Europeia. E chamam a atenção para os problemas causados pelo relacionamento “difícil” entre o Banco Mundial e os outros doadores

A revisão conjunta cita o problema persistente que muitos doadores têm com projectos bilaterais que eles implementaram e que não entram no orçamento do governo ou outros registos e sistemas governamentais. De facto, o governo nem mesmo recebe informação da parte de algumas ONGs e pequenos projectos dos doadores. A revisão conjunta nota que há problemas com projectos bilaterais dos doadores nos sectores da saúde, acção social, água e saneamento.

O pior é na saúde, com 56% do orçamento vindo de fundos verticais geridos apenas por dois ou três doadores de acordo com as suas próprias prioridades e o governo pouco tem a dizer sobre o seu uso. Outros doadores põem o seu dinheiro relativo à saúde em fundos comuns que são administrados conjuntamente por doadores e governo e seguem mais de perto as políticas do governo. A revisão conjunta confirma as queixas públicas, feitas no ano passado pelo Ministro da Saúde Ivo Garrido, acerca do dinheiro dos doadores chegar tarde; estas queixas foram negadas na altura.

Outra área citada pela revisão conjunta é a falha persistente dos doadores em usar o sistema nacional de auditoria apesar das promessas de o fazer, obrigando a mais trabalho por parte do governo que lida com a ajuda. A revisão do IESE faz notar que nem a Irlanda nem o Canadá põem um grande percentagem da ajuda através do apoio ao orçamento, mas ambos contam bons resultados porque ainda usam os sistemas nacionais.

Plano Impossível

Quase todos os doadores têm sido pontuais com o seu dinheiro de apoio ao orçamento e programa, embora o sejam menos em relação aos fundos de projecto. De facto, dois terços dos fundos de apoio ao orçamento foram dados ao governo no primeiro trimestre de 2008.

Mas, falando em privado à equipa do IESA, o governo mostrou-se muito preocupado sobre a falta de qualquer projecção a médio prazo, o que ainda é prejudicado pelo facto de muitos doadores estarem a reconsiderar as suas estratégias de ajuda este ano. Assim é impossível planificar.

O governo gostaria de usar o seu Cenário Fiscal de Médio Prazo, um plano em curso de três anos para planificação do desenvolvimento, e gostaria de poder incluir a ajuda mas não o pode fazer.

A revisão independente do IESE força bastante esta questão dizendo que o plano de médio prazo devia estabelecer prioridades na despesa de acordo com a política do governo. Devia deixar de ser um plano que “responda apenas defensivamente” à ajuda anunciada pelos doadores.

O governo devia simplesmente parar de fazer alterações ao orçamento para acomodar os interesses dos doadores individuais e, em vez disso, usar o plano de médio prazo como guia para os doadores saberem onde é preciso pôr o dinheiro.

Quantas mais missões?

Os doadores prometeram reduzir o número de missões a Moçambique e fazer a maior parte delas conjuntamente, mas não estão a alcançar as suas metas. Em 2008 houve 165 missões de doadores comparado com uma meta de 120. Provávelmente só 24% delas foram conjuntas, comparado com uma meta de 35%. Mas a revisão independente diz que é impossível ter a certeza porque algumas agências disseram que outras agências participaram em missões “conjuntas” mas as outras agências não mencionam estas missões – assim, ou algumas agências não estão a informar sobre todas as suas missões a Moçambique, ou estão a afirmar que as missões são colectivas quando não são.

Os doadores estão também a deixar de cumprir promessas para coordenar a assistência técnica. A revisão conjunta admite que “muitos doadores insistem em manter o modus operandi de Cooperação Técnica não coordenada”.

O novo MdE com mais ênfase na corrupção

O fracasso do aumento do apoio ao orçamento segue-se à assinatura do Memorando de Entendimento (MdE) de 18 de Março que volta a salientar a corrupção e responde às queixas dos doadores de que todos os anos o governo promete agir sobre a governação mas não cumpre.

O apoio ao orçamento é regulamentado por um MdE acordado pelos doadores e governo e o novo MdE de 90 páginas não é muito diferente do anterior assinado há cinco anos. As várias revisões e processos de planeamento continuam a ser morosos e complicados. Mas há também três mudanças subtis – os doadores aumentaram o seu raio de acção para pressionar o governo e estarem mais profundamente envolvidos nos processos de planeamento, mas os doadores individuais aceitaram uma redução no espaço de acção unilateral.

No MdE de 2004, no caso de uso indevido de fundos ou corrupção em grande escala, o governo prometeu simplesmente tentar recuperar o dinheiro. No novo MdE, em caso de “a apropriação indevida ou má utilização séria de fundos do Orçamento de Estado ou actos de corrupção em grande escala por membros do GdM”, os doadores têm o direito de suspender fundos, individual ou colectivamente. Isto represente um endurecimento da posição dos doadores contra a corrupção.

No mundo da diplomacia a mudança de uma simples palavra pode ter um peso substancial e foi o que aconteceu com o novo MdE. A avaliação do desempenho do governo é feita através de um conjunto de metas no Quadro de Avaliação de Desempenho, QAD. Os dois MdEs salientam que o que conta é uma tendência para a melhoria no desempenho do governo. Mas no MdE de 2004 os doadores dizem que “deverá tomar em conta que as dificuldades do desempenho estão a ser tratadas.” Desta vez a expressão “dificuldades de desempenho” é substituida por “falhas de desempenho” o que é muito mais forte. Por outras palavras, desculpas sobre “dificuldades” já não serão aceitáveis para os doadores, particularmente em áreas como a justiça e governação.

Por outro lado, embora o G19 tenha mantido o poder de cortar fundos, individual ou colectivamente, no caso de corrupção grave ou onde foram violados os “princípios básicos” do acordo, fizeram a importante concessão de impedir os doadores de agirem unilateralmente. O novo acordo obriga os doadores a trabalharem através do G19 mesmo quando há desacordo dentro do grupo, antes de decidirem qualquer acção unilateral.

Doadores mais imiscuídos na política do governo

O apoio ao orçamento devia em princípio dar aos governos recipients mais poder sobre o modo de dispender a ajuda mas, num dos aspectos mais controversos do apoio ao orçamento em África, o que acontece é o contrário. Os doadores pediram para estar mais dentro do processo de formulação da política.

O MdE de 2004 já exigia que os doadores tivessem acesso aos documentos de planeamento, relatórios e outra informação, e que o governo se encontrasse com os doadores antes de submeter o o orçamento à Assembleia da República (fazendo da aprovação da AR uma anedota – como é que esta poderia rejeitar um orçamento depois dele ter sido aprovado pelos doadores?) Mas o novo MdE também exige ao governo que mostre os rascunhos anteriores aos doadores.

Na sua declaração de 18 de Março na assinatura do MdE, o então chefe do G19 Frank Sheridan, salientou que as “políticas orçamentárias” são a prioridade dos doadores. Sheridan disse que “o apoio financeiro ao orçamento nacional é o equivalente financeiro de se adicionar água a um tanque, o que equivale a dizer que é impossível identificar as contribuições individuais e por isso, o que se torna importante é saber como é que os fundos totais são aplicados.” Por outras palavras, enquanto o apoio a projectos implica apenas ver como são gastas pequenas quantias de dinheiro, o apoio ao orçamento significa controlo detalhado do doador sobre toda a despesa do governo.

Mas alguns doadores estão preocupados com esta tendência, pelo menos em privado. A avaliação do desempenho do doador do IESE ouviu tanto o governo como os doadores e nota que: “Alguns PAPs [Parceiros de Apoio Programático] mencionaram que existe um risco real de transformar algumas das organizações dos PAPs numa espécie de governo sombra, paralelo, na medida em que tendem a estar demasiado envolvidas na gestão, na tomada de decisões e no desenvolvimento de políticas a nível micro.”

*Joseph Hanlon é editor do Boletim do Processo político em Moçambique, publicado por CIP e AWEPA e co-autor do livro Há mais bicicletas, mas há Desenvolvimento?

*Por favor envie comentários para [email][email protected] ou comente on-line em http://www.pambazuka.org

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KABISSA-FAHAMU NEWSLETTER 17

Dakar - Malam Bacai Sanhá, candidato do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) às eleições presidenciais previstas para 28 de Junho na Guiné-Bissau, anunciou terça-feira à noite em Dakar a realização de uma conferência nacional com todos os actores políticos do seu país caso seja eleito Presidente da República

Luanda - O ministro angolano da Defesa, Kundi Paihama, defendeu, quarta-feira(27), em Luanda, a necessidade de maior reforço da cooperação nos domínios dos ministérios da Defesa e das Forças Armadas entre todos os estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Niamey - O presidente de Níger, Mamadou Tandja, dissolveu hoje (26) por decreto o Parlamento nacional, depois que a Corte Constitucional emitiu um relatório desfavorável sobre sua intenção de organizar um plebiscito para tentar se manter no poder, informou a imprensa local.

A medida aconteceu no momento em que os membros do Parlamento examinavam hoje a decisão do presidente de organizar um plebiscito para modificar a Constituição, de modo que pudesse se apresentar novamente às eleições quando encerrar seu mandato, no final de 2009.

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A primeira Conferência Nacional de Comunicação será realizada entre 1 e 3 de dezembro de 2009, quando serão apontadas diretrizes para regulação e políticas públicas para o setor, estabelecendo referências para a construção de um novo modelo institucional para as comunicações no país.
Rumo à Conferência, diversas organizações se articulam e realizam reuniões para qualificar a intervenção dos movimentos sociais nas etapas preparatórias e eletivas da Conferência.

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Moçambique é o terceiro país mais afectado pelos desastres naturais em África, depois das Maurícias e Benin e um dos mais vulneráveis às mudanças climáticas que já estão a ser sentidas em todo globo, segundo estudo divulgado esta semana pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades. Esta situação resulta da sua longa costa (2700 quilómetros), na qual se situam os principais portos nas cidades de Maputo, Beira e Nacala.

Tajudeen liderou o trabalho do Justice Africa com a União Africana desde seus primeiros dias. Ele combinou isto com seu papel de Secretário Geral do movimento Pan-Africanista, diretor do Centro para a Democracia e Desenvolvimento, o Programa Pan-Africano de Educação e Desenvolvimento e Adovocacia, e foi um lutador na luta para ter a Campanha de Desenvolvimento do Milenium das Nações Unidas a apioar programmas de relevância. Houve poucas iniciativas pan-africanas que logrou sem a inimitável presença de Tajudeen, seu apoio, humor e percepção política.
Muito de como ele conseguiu combinar tudo isso com sua contribuição semanal ‘Pan African Postcard’ que regularmente publicavamos no Pambazuka News e em outros jornais incluindo The Monitor (Uganda), Weekly Trust (Nigéria), the African (Tanzania), Nairobi Star (Kenya) e Weekly Herald (Zimbábue) sempre foi um mistério para todos nós.
Sempre podiamos contar com Tajudeen para chamar nossa atenção aos aspectos mais importantes dos últimos eventos políticos em África – Assim como você podia contra com ele para dar uma direção e encorajamento durantes tempos difíceis, restaurando em nós a coragem por outras lutas vindoras pela emancipação do continente.
A partida de Tajudeen deixa um buraco massivo em todas nossas vidas. Todos nós devemos lamentar a perda deste homem gigantesco. Mas se sua vida é para significar nada, nós devemos seguir seu chamado na assinatura de cada um de seus e mails – “Não agonize, organize-se!”.
Como parte de nosso tributo a Tajudeen, camarada, irmão e lutador do PanAfricanismo, Pambazuka News convida todos a enviar mensagens de concolencias e tributos para ou comentar on line em http://www.pambazuka.org/

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrega hoje (25), às 15h45, na cidade de Cachoeira (BA), obra de recuperação do Quarteirão Leite Alves, prédio histórico que abrigará o primeiro campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). O presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, e o ministro da Educação, Fernando Haddad, participam da solenidade.

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O continente africano comemora nesta segunda-feira, 25 de Maio, 46 anos desde a proclamação da Organização de Unidade Africana (OUA), actual União Africana, num contexto de várias perturbações caracterizadas por confrontos político-militares e pela crise económica mundial. Um “Colóquio sobre a paz e reconciliação nacional no continente africano” realiza-se nesta segunda-feira, em Luanda, para assinalar o aniversário da fundação da organização de Unidade Africana(OUA), actual União Africana.

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O presidente moçambicano, Armando Guebuza, admitiu sábado, último dia da sua “Presidência Aberta e Inclusiva” à província da Zambézia, na região centro, que a produtividade agrícola ainda é muito baixa no país. “É verdade, o nosso rendimento é muitíssimo baixo”, disse Guebuza, frisando “muitíssimo baixo”. Segundo Guebuza, a área explorada em Moçambique deveria estar a produzir 10 vezes mais, pois a Zambézia, além de possuir uma terra rica para a prática de agricultura, também tem muita água.

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Angola comemora hoje o Dia de África com um colóquio onde vários lideres do continente debatem a reconstrução nacional pós-conflito e o impacto da crise financeira internacional no continente. No encontro, estão presentes no colóquio o presidente da República angolano, José Eduardo dos Santos, e o presidente da Comissão Executiva da União Africana (UA), Jean Ping, sendo ainda aguardado o líder líbio e Presidente da UA, Muammar Kadhafi, entre outros dirigentes africanos.

A discussão ainda não começou, mas, apesar disso, algumas vozes têm-se apressado a exprimir o receio de que a futura Constituição tenha a “cara do MPLA”. Teoricamente, esse receio pode fazer sentido, em virtude do tamanho da maioria obtida pelo partido no poder nas últimas eleições legislativas. Contudo, até agora, nenhum facto sustenta esse receio. Por isso, o mesmo tem de ser entendido à luz da luta política subjacente a todo o debate constitucional.

Como membro da Comissão Constitucional, não seria ético, da minha parte, entrar publicamente nos detalhes de um debate que está agora a começar. O que pretendo é tão-somente partilhar o apelo do Observatório Político-Social Angolano (OPSA) para que esse debate seja o mais amplo e aberto possível, em todos os aspectos.

Assim, parece essencial não ir para o debate com ideias pré-concebidas, evitando, pois, a tentação de transformar em dogmas certas opções constitucionais. A única coisa “sagrada” a preservar será o carácter rigorosamente democrático das soluções que vierem a ser adoptadas. O direito comparado aí está para mostrar que, no interior da democracia representativa, há várias fórmulas possíveis.

O ideal é que tais fórmulas sejam definidas o mais consensualmente possível (mas também sem tentativas de bloqueio). Para isso, pede-se abertura política e mental, objectividade, realismo, paciência, sentido de Estado e visão de longo prazo, por parte dos constituintes. Além disso, a discussão precisa de ser alargada a toda a sociedade.

Na verdade, esta será a primeira Constituição verdadeira da história de Angola. Até agora, o país tem vivido praticamente de transição em transição, mas espera-se que, com o advento da 3ª República, o mesmo entre na sua normalidade definitiva. Por essa razão, a discussão constitucional precisa de tempo. Não se trata apenas, como já ouvi certas vozes afirmar, de fazer uns “remendos” à actual Lei Constitucional.

Desse debate devem participar todos os angolanos. Na minha opinião pessoalíssima, esse é um assunto exclusivamente angolano. Estranhei, por isso, a decisão do maior partido da oposição de apresentar o seu anteprojecto aos embaixadores estrangeiros acreditados no país. A não ser que me esteja a escapar alguma coisa, achei isso despropositado, no mínimo.

Angola-EUA

De acordo com as informações disponíveis, a visita do ministro angolano das Relações Exteriores, Assunção dos Anjos, aos Estados Unidos foi extremamente positiva. Essa impressão foi reforçada pela maneira como decorreu, em Luanda, o seminário entre empresários americanos e angolanos, na mesma altura em que o ministro estava em Washington.

Ultrapassados que parecem estar os antagonismos do passado – na maior parte dos casos, baseados em equívocos mútuos – e 16 anos depois do reconhecimento formal de Angola pelos EUA, a ideia, assumida por ambos, é ampliar e reforçar os laços de cooperação entre os dois países, indo para além das relações no domínio da indústria petrolífera (as quais, curiosamente, se mantiveram mesmo quando não havia relações diplomáticas entre eles).

O presidente da Agência Nacional do Investimento Privado (ANIP), Aguinaldo Jaime, que acompanhou o ministro das Relações Exteriores na sua viagem, observou – e bem – que o investimento não-petrolífero americano em Angola é muito diminuto. Estou de acordo, obviamente, que Angola use a diplomacia económica para atrair mais investimentos americanos importantes fora do petróleo. Porém, isso não basta.

As autoridades têm um dever de casa a fazer, em termos de ambiente de negócios. Por exemplo, questões como a burocracia ou a corrupção são especialmente sensíveis aos investidores americanos. Sem falar da maka dos vistos, que ninguém consegue (ou quer) descomplicar.

Como se sabe, o pragmatismo é um traço fundamental da cultura americana. Ou seja, não basta só papo.

*João Melo, jornalista, parlamentar e escritor angolano.
*Artigo reproduzido de Africa 21, com autorização.
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A fuga de quadros africanos qualificados, para os mercados da Europa e Estados Unidos da América, verifica-se actualmente em grandes proporções chegando a atingir o número acima dos 250 Mil, segundo instituições internacionais especializadas. De acordo com o antigo conselheiro angolano na Embaixada de Angola nos Estados Unidos da América, EUA, Francisco Cruz, em exclusivo ao Especial sobre o dia de África da TPA, assinalado a 25 de Maio, caso estes quadros tivessem oportunidades de regresso e de intervenção em África, ajudariam a elevar os índices de desenvolvimento.

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O governo cabo-verdiano aprovou o acordo de empréstimo de 10 milhões de euros para financiar um projecto de abastecimento de água potável e de saneamento básico no Município de Santa Catarina (Ilha de Santiago). A “luz verde” foi dada no Conselho de Ministros, em que o executivo de José Maria Neves ratificou o empréstimo acordado a 09 de Março, destinado a aumentar em cerca de 40 por cento o volume de água potável disponível para todas as localidades pertencentes ao Município de Santa Catarina.

O Presidente da Comissão Executiva da União Africana, Jean Ping, lamentou hoje, em Luanda, que passados os nove primeiros anos do século XXI, o continente africano ainda tenha na paz e na segurança as maiores preocupações. O gabonês Jean Ping, que se encontra em Angola no quadro das comemorações do Dia de África, 25 de Maio, lembrou hoje, no encerramento da 6ª Conferência do Comité de Inteligência e Segurança de África (CISSA), que os Estados africanos, nesta fase da sua história, ainda gastem dois terços dos seus recursos em questões de segurança e paz.

O crónico problema de falta de electricidade na ilha do Príncipe, São Tomé e Príncipe, poderá ficar resolvido brevemente com a instalação de uma nova mini-hídrica pelo grupo Soares da Costa, disse à Lusa o presidente do governo regional. Em declarações à Lusa em Lisboa, José Cassandra afirmou que o projecto da mini-hídrica de São Joaquim, a segunda a instalar pelo grupo português na ilha, está a ser analisada pelo Governo central e deverá receber "luz verde" nos próximos meses.

O Banco da África Ocidental (BAO), detido maioritariamente pela Geocapital, inaugurou hoje uma agência em Bafatá, no leste da Guiné-Bissau, e outra em Canchungo, no norte, numa estratégia de combate à pobreza e desenvolvimento local, afirmou o director da instituição. No discurso de inauguração da agência em Bafatá, o director do principal banco comercial na Guiné-Bissau, Rómulo Pires, disse que o seu grupo pretende desta forma ajudar o governo na sua acção de combate à pobreza, esperando que a população da região ouse confiar as suas economias ao BAO.

Considerando á década de 80, precisamente o ano de 1983, como ponto de partida para compreensão do início da contenda, o número de vítimas pode ultrapassar os 400.000 alarmados pelas organizações “humanitárias” euro-ocidentais, assim como, o número de refugiados pode ser muito maior que os estimados dois milhões e meio estatisticamente conhecidos. Estupros em massa, esquartejamento, infanticídios, assassinatos, carbonizações, sociedades destruídas e um elevado número de órfãos e refugiados são o produto da violência indiscriminada perpetrada por milícias islâmicas mercenárias - inseridas no exército nacional do Sudão -, denominadas jajaweed.

Essas milícias são resultado da evolução política e do contexto político da guerra fria externalizado durante a década de 80 na nas disputas de poder envolvendo as relações entre o Chade e a Líbia. Durante a década de 80, o governo da Líbia utilizou-se desses grupos mercenários para expulsar as populações chadianas localizadas ao sul do seu território aumentando a sua influência para o interior do Chade. O governo da Líbia tinha por objetivo anexar o território do Chade. Com o abandono desta política por parte do governo líbio, esses grupos de mercenários foram deslocados para o Sudão, onde naquele momento – 1983 - estava em andamento o golpe de estado que fundamentava a idéia da construção de um “estado islâmico sudanês”, regido pela lei Sharia. As elites árabes fundamentalistas de Cartum utilizar-se-iam, a partir deste momento, estas milícias como instrumento principal da imposição do projeto do “estado islâmico”, perante a diversidade populacional sudanesa. Assim, a intensificação da violência a partir de 2003, bem como, a falta de perspectiva e ação por parte da “comunidade internacional” para solucioná-lo, levantam alguns questionamentos, a saber:
Por que um conflito que extravasa os limites da violência contra seres humanos, possui uma visibilidade tão reduzida na mídia mundial, quando comparado, por exemplo, com a visibilidade existente em torno da contenda israelo-palestina? Qual a concepção de “humanidade” existente no imaginário dos responsáveis pelas políticas na Organização das Nações Unidas – ONU – que partem do pressuposto, antes de tomar qualquer decisão, saber – através de “discussões inócuas” - se o conflito de Darfur constitui-se como genocídio ou guerra civil? Na visão dos formuladores da política internacional da Organização das Nações Unidas, a “ajuda humanitária” só pode chegar, depois de chegado àquele consenso, pois, só a partir do mesmo poder-se-á ter uma dimensão dos gastos necessários para a ajuda específica.

O que significa trabalhar pela paz; qual a noção de democracia e de direitos humanos, quando potências que detém o poder de veto no Conselho de Segurança das Nações – CSN – e por esse motivo, são as mesmas que detém a possibilidade concreta da tomada de “ações enérgicas” contra os violadores dos valores que defendem, continuam a manter relações econômicas e diplomáticas com o governo transgressor, como é o caso da China, que é o principal fornecedor de armas do governo sudanês?

A forma como a instabilidade de Darfur é percebida pelos organismos internacionais e pela mídia internacional, deixa explícita a pouca validade de conceitos como: Direitos Humanos, Paz, Humanidade, Democracia que nos dias correntes, continuam a servir como referenciais das relações humanas e como uma das principais contribuições da concepção de modernidade provinda na ideologia iluminista. Logo, tais questionamentos, têm a finalidade deixar explícita a ausência de perspectivas na resolução dos conflitos africanos – apontado na construção do discurso e na prática das potências - assim como, a manutenção da posição da África a partir de suas potencialidades e não da sua historicidade e relações humanas planetárias.

Por outro lado, o andamento e os desdobramentos do Conflito de Darfur, suscitam questionamentos em âmbito nacional que dizem respeito à importância deste conflito na política externa brasileira – na atual conjuntura das ações afirmativas - e na forma como a mídia impressa nacional dá visibilidade não apenas ao conflito de Darfur, mas, a toda uma dinâmica social africana qual os conflitos estão inseridos. Logo, dois questionamentos são de fundamental importância para a construção da imagem de uma África desprovida dos estereótipos e dos mitos raciológicos que a envolvem.

Qual a orientação da política externa brasileira em relação ao conflito de Darfur, considerando a política de aproximação Brasil-África e considerando a diminuição dessas distâncias, em um país onde aproximadamente 70% da população é afro-descendente? Tomando por base o decreto das ações afirmativas, qual o espaço que a mídia impressa nacional pode ocupar na formulação de uma imagem positiva da África e de suas dinâmicas internas, considerando a mesma, como uma das bases da formação do imaginário nacional sobre a África?

CONCLUSÃO

O conflito de Darfur apresenta-se na atualidade, talvez, como o maior em números de vítimas e o que se destaca pelo excesso de violências perpetradas a toda a população do Sul e do Oeste do Sudão, onde está localizada a região de Darfur. O fato de a violência transcender os limites humanos é que impera por questionamentos sobre a validade de conceitos – paz, direitos humanos, humanidade, humanitarismo, democracia - que norteiam, não somente, os organismos internacionais, responsáveis pela segurança planetária, bem como, as relações intergrupais mundiais. A não visibilidade para o conflito darfuniano nos remete a essas interrogações para explicitar a posição – o espaço que ocupa - da África e suas dinâmicas sociais em relação aos centros de poder. Imprescindível destacar que a pergunta sobre o significado e a validade de determinados conceitos objetivam demonstrar, como os mesmos são apropriados e aplicados de diferentes formas em relação ao continente africano e suas divergências internas.

REFERÊNCIAS

MAHDI EL, Mandour. A short history of the Sudan. Oxford university press, 1965.

POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da etnicidade.São Paulo: Unesp, 1997.

PRITCHARD. E.E, Evans. Os Nuer. São Paulo: Perspectiva, 2005.

SHERMANN, Patrícia Santos. Fé, guerra e escravidão: cristãos e muçulmanos face a mahdiyya no Sudão (1888-1898). 2005. 416 f. Tese (doutorado em história) Niterói, Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro.

*Marcio Paim é mestrando em Estudos Africanos na UFBA
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Por Ammar Kessab

O estudo das relações culturais entre o Maghreb e a África negra demonstra que as trocas em material de arte e de cultura entre os dois universos se caracterizam por uma inércia papável. De fato, se pegamos os festivais como barometro do nivel de trocas, nos constatamos que somente três festivais sao dedicados ao Norte a cultura Africana: dois no Marrocos (Festival do cinema africano de Khouribga, Festival Internacinal de musicas africanas Magic Draâ em Zagora) e um único na Argelia (Festival arabo-africano de dansa folclórica de Tizi Ouzou).

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Por Firoze Manji

Neste artigo, escrito no calor de uma noticia tragica, uma perda a todos que lutamos por um mundo melhor e por uma Africa inserida na luta social, Firoze Manji faz um tributo ao Dr. Tajudeen, que morreu num tragico acidente a caminho do aeroporto no Quênia. Tajudeen que contribuía semanalmente ao Pambazuka News com sua coluna 'African Postcards', será lembrado por seus amigos e companheiros como um gigante incansável na luta pela dignidade em África e da África nos fóruns internacinais tal como a ONU e a União Africana.

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Segundo o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral, ira decorrer em todo território nacional a actualização do recenseamento eleitoral para que os cidadãos que atingiram a idade eleitoral este ano e que perderam ou tem os seus cartões inutilizados, possam inscrever-se pela primeira vez ou regularizar a sua condição de eleitores, tendo em vista as eleições gerais e provinciais, marcadas para 28 de Outubro próximo. O recenseamento eleitoral vai arrancar a 15 de Junho e terminara 45 dias depois, isto é a 29 de Julho. Em relação ao o recenseamento eleitoral de raiz para os cidadãos moçambicanos residentes no estrangeiro irá decorrer durante vinte dias, mais precisamente entre 10 de Julho e 29 de Julho.

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As Eleições Presidenciais, Legislativas e das Assembleias Provinciais são a 28 de Outubro. Assim determinou o chefe do Estado, Armando Guebuza, em despacho presidencial. No seu despacho, Guebuza destaca que “...as eleições presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais se devem realizar simultaneamente, num único dia, em todo o território nacional, durante a época seca...”

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